domingo, 26 de fevereiro de 2017

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                  OS SÉCULOS DE RETROCESSO DA IGREJA

Aquela tendência de pensar a excelência do que é moderno em detrimento do que é antigo mostra-se inconsistente no que concerne à história da mulher na Igreja. O Novo Testamento, a arte cristã, as mais diversas fontes históricas e, até mesmo, os escritos apócrifos ates­tam que o lugar ocupado por ela, ao lado de Jesus, e nos primórdios do cristianismo, era tão importante quan­to o do homem. Ela desempenhou as mesmas funções que o homem no quesito liderança, ensino e nas demais funções do serviço cristão – como já vimos enfatizando, com base nos estudos realizados por grandes teólogos, durante todo este trabalho.
Na arte cristã do primeiro e do segundo século, po­de-se apreciar o desempenho das mulheres nas mais va­riadas atividades ministeriais. Aparecem administrando a Ceia do Senhor, ensinando, batizando, assistindo aos necessitados e liderando as orações públicas.
Hoje, contabilizamos séculos de apatia. À medi­da que a Igreja foi-se estabelecendo como instituição religiosa e o fervor espiritual decrescendo, a organiza­ção eclesial substituiu a simplicidade daquele primeiro e poderoso avivamento da primeira congregação cris­tã. A hierarquização trouxe a separação entre irmãos e irmãs, em lugar do primeiro amor - aquele sentimento poderoso que marca o início da nossa caminhada com Cristo. Sentimento que estava faltando, também, à igreja de Éfeso em certa época de sua história. Tema que sus­citou a advertência do apóstolo João, a mando de Jesus Cristo, na primeira das cartas dirigidas às Sete Igrejas da Ásia: Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primei­ro amor. Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arre­penderes .(Apocalipse 2. 4, 5). Os homens tomaram para si os papéis de liderança, e às mulheres restaram atribui­ções secundárias. Aos poucos, elas foram silenciando e durante séculos a Igreja deixou de ouvir a sua voz.
Mesmo com a Reforma protestante, não ocorreram mudanças significativas no modelo patriarcal-clerical da Igreja. A grande mudança operou-se, evidentemente, no que se refere à fidelidade à palavra de Deus; haja vista, a famosa exortação de Lutero: Sola Scriptura. Excepcio­nalmente, porém, uma mudança significativa sobressai, referente à organização da Igreja. Trata-se da substitui­ção do celibato pela família patriarcal-clerical. A referida mudança criou um cargo para a mulher - o de esposa de Pastor. Por intermédio desse cargo, surgiu a oportunida­de de prestar maiores serviços no âmbito da Igreja, na área de ensino e, de maneira meio escamoteada, da pre­gação da Palavra, sem que disso se fizesse muito alarde. A mudança, porém, atingiu umas poucas senhoras frente a uma multidão de mulheres silenciosas e excluídas dos trabalhos cristãos de liderança, chamadas apenas para trabalhos de menor responsabilidade.
Outra exceção verificou-se a partir do século 19, ocorrida entre os Metodistas e os Cristãos da Bíblia, e configurou-se numa grande abertura – ou reabertura – quando são admitidas pregadoras e realizam-se eleições para episcopisas, cargo equivalente ao de bispo. Mulhe­res, então, passam a integrar a cúpula da organização eclesial metodista. Exceção que serviu para confirmar a regra da involução das outras denominações, (em com­paração com o trabalho dos primeiros cristãos) no que diz respeito à apatia que tomou conta da Igreja ao relegar a atividade feminina a segundo plano.
No Brasil, do século 20, com o surgimento das Igre­jas Neo-Pentecostais, a mulher passou a deixar o seu si­lêncio milenar. Hoje, já se tem notícia de mulheres exer­cendo cargo de Pastoras, livres de quaisquer empecilhos, e atuando nos demais setores da Igreja, graças a Deus! Esse fato parece confirmar o pensamento da escritora Maria L. Boccia, ao detectar um padrão comportamental na História da Igreja, que opera da seguinte maneira:
Quando a liderança envolvia a escolha carismática de líderes, da parte de Deus, mediante a dádiva do Espí­rito Santo, as mulheres foram incluídas. Com o passar do tempo, a liderança é institucionalizada, a cultura patriarcal secular se infiltra na Igreja e as mulheres são excluídas.
Diante de um reavivamento espiritual, característi­ca marcante do movimento pentecostal, sob a direção do Espírito Santo, é natural que ocorra, especialmente, o que foi preconizado em Gálatas 3.28. Isto é, graças à unidade dos crentes em Cristo, são quebradas as barreiras que se­param as pessoas, especialmente por questão de gênero.
Durante os séculos de retrocesso da Igreja - em comparação com o fervor que avivava o primitivo movi­mento cristão, e ao expressivo desempenho feminino de então - o silêncio da mulher brasileira, em maior grau do que a das suas irmãs de outros países do Primeiro Mun­do, raramente viu-se quebrado. Vimos, porém, missio­nárias de outros países virem trabalhar na evangelização e ensino da Palavra em solo brasileiro; e, ainda que com sotaque estrangeiro, vozes femininas eram ouvidas den­tro da jovem Igreja do Brasil. Agora, os tempos são ou­tros, a apatia vai ficando para trás, e temos consciência de que vivemos, realmente, na era da Graça, sob a égide do Espírito Santo. A mulher brasileira começa a aquecer a voz, por tanto tempo silenciada, a fim de proclamar a mensagem da cruz. Deus seja louvado!
No entanto, o debate sobre o assunto continua vivo nas congregações do país, em contraste com a aquiescên­cia há muito obtida na grande maioria das Igrejas evangé­licas da Europa e dos Estados Unidos. Segundo Duncan Reily, essas instituições religiosas já responderam “sim” às questões: “Pode a mulher legitimamente ser ordenada sacerdotisa? Pode, portanto, a mulher licitamente minis­trar a Eucaristia?” As respostas afirmativas – há mui­to respondidas - contrastam, apenas, com a negativa da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa, totalmente contrárias ao ministério ordenado da mulher.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Texto extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

O TEXTO MAIS EXPLOSIVO DO NOVO TESTAMENTO


Antes de comentar o referido texto - de Gálatas 3.26- 28 - já mencionado no primeiro capítulo deste livro - con­vém observar a definição que os dicionários dão à palavra machismo: Atitude ou comportamento de quem não acei­ta a igualdade de direitos para o homem e a mulher.
Essa definição - cotejada com o objetivo ardua­mente buscado pelo apóstolo Paulo, isto é, o da unidade dos crentes em Cristo, por se tratar de um mandamento fundamental do cristianismo, coloca-nos diante de um impasse. Impossível, alguém que não reconhece direitos iguais para homens e mulheres, escrever o texto social­mente mais explosivo do Novo Testamento, justamente para defender esses direitos, exatamente como Paulo faz, na carta aos Gálatas: Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. Ele encerra o pen­samento com chave de ouro declarando: E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa. (v. 29). Prova cabal de que as mu­lheres e as pessoas marginalizadas dentro da sociedade, não foram deserdadas pelo Pai, mas, adotadas em Cristo como verdadeiras filhas de Deus, independente de status social – basta crer em Jesus Cristo e aceitá-lo como seu Senhor e Salvador. Esse texto serve, também, para livrar o apóstolo Paulo da pecha de machista.
A frase, do versículo 29, remete-nos a outro após­tolo, a Pedro, o qual observa que homens e mulheres são co-herdeiros da graça da vida, (1 Pedro 3.7). Graça sob a qual desponta a nova nação das pessoas recriadas em Cristo, em meio à qual são quebradas as barreiras que as separavam por questões de raça, classe social ou gênero.
Dentre os motivos que deram a Paulo fama de ma­chista encontram-se algumas de suas bem conhecidas – porém, mal interpretadas - recomendações às mulhe­res, sobre as quais já falamos anteriormente. Ao tomar conhecimento dessas recomendações, com isenção de ânimo, conclui-se que costumam ser lidas sem levar em conta o contexto social e a situação da Igreja no momen­to em que foram escritas, conforme asseveram os estudiosos cristãos adeptos do igualitarismo entre homens e mulheres dentro da igreja.
Passemos a apreciar, agora, nos textos bíblicos, como foi a atuação da mulher nos primórdios da Igreja. A constatação dessa realidade, por si só, contribui para amenizar, e até apagar, a fama que se apegou ao nome de Paulo, de inibidor da ação das mulheres no plano ecle­sial. Ao mesmo tempo, em que nos faz aquilatar o valor do ministério das primeiras mulheres cristãs. O caso de Febe, que dá início a este capítulo, é exemplar.
Voltemos, pois, à carta aos Romanos, cujo capítulo 16 inicia com as palavras de recomendação de Paulo, a res­peito de uma mulher chamada Febe, da igreja de Cencréia, porto de Corinto, aos cuidados da Igreja romana: Para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem aju­dado a muitos, como também a mim mesmo (v.2).
Febe foi encarregada por Paulo de ser a portado­ra da Carta aos Romanos, (que grande tarefa confiada a uma mulher, a responsabilidade de fazer chegar ao seu destino esse documento de valor inestimável para a cris­tandade). Ela era diácona da igreja de Cencréia e, tanto o cargo que ocupava na Igreja quanto a missão que lhe fora confiada provam cabalmente sua idoneidade moral e prudência, mas, acima de tudo, sua condição de após­tola. Observemos o sentido original da palavra apóstolo: mensageiro a quem era delegada uma determinada ta­refa. No caso de Febe, mensageira também no sentido literal da palavra.
A escolha de uma mulher, por parte de Paulo, para o desempenho de tarefa de tamanha importância vem para provar dois fatos favoráveis a ambos: com rela­ção a Febe, vem provar que era fiel e destacada serva do Senhor; da parte de Paulo que ele não fazia acepção de pessoas e apoiava indiscriminadamente o trabalho das apóstolas. A epístola aos Romanos é considerada a mais preciosa dentre as cartas escritas por Paulo.