sábado, 30 de abril de 2016

                                   “AMARGA INVEJA”                     
                                                                         Rachel Winter
São inúmeros e bem conhecidos os relatos bíblicos que tratam das tragédias originadas por esse sentimento perverso chamado inveja. Basta lembrar que foi a causa do primeiro homicídio registrado na Bíblia; quando Caim matou Abel, porque Deus não se agradou de sua oferta, mas da de seu irmão. (Gênesis 4). Bem se vê, a inveja pode permear qualquer relacionamento, mesmo aquele que deveria ser, por definição, afetivo. Transforma os laços (de ternura...?) familiares ou de amizade em armadilhas que podem ser mortais. E, por incrível que pareça, embaraça até relacionamentos entre mãe e filhos. E o mais assombroso é quando se verifica que esse filho é ainda um bebê! Foi o que se viu, há algum tempo, em Curitiba: uma mãe, de dezessete anos de idade, torturava o seu bebê, de apenas 4 meses de vida. O motivo, segundo suas próprias palavras, era inveja da atenção que a família e as visitas dispensavam à criança. Ela não aguentava ouvi-los dizer diante do berço: Que gracinha! Tão bonitinho! E outras palavras de carinho e admiração pela criança, fazendo a mãe sentir-se em segundo plano.
Não se sabe como a criança sobreviveu, pois já tinha calos em alguns ossos do corpo, que haviam sido fraturados e teriam solidificado mesmo sem atendimento médico, tudo isso causado pelos maus-tratos infligidos pela mãe. Mais chocante ainda é saber, segundo opinião de psiquiatras, que muitos dos crimes praticados com requintes de crueldade são de autoria de pessoas consideradas mentalmente normais – que sabem muito bem o que estão fazendo. No caso da mãe, denunciada por parentes, foi condenada pela justiça a alguns anos de prisão; contudo nesse caso foi considerada pelos psiquiatras como débil mental. Retardada, mas, não louca.
Será que pessoas mais inteligentes não se enquadrariam entre os que têm ciúme dos próprios filhos? – Ciúme e inveja andam de mãos dadas. - Quantos pais manifestam ciúme do filho recém-nascido por causa da atenção que a mãe passa a  dispensar à criança! E seriam todos débeis mentais? Certamente que não.
O apóstolo Tiago [3:14-15] discorrendo sobre a inveja, diz: “Mas se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a “sabedoria” que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica.”
Perturbação e perversidade – A sociedade sempre enalteceu a mulher como mãe; ainda que a desprezasse como cidadã e a mantivesse marginalizada como “segundo sexo” - expressão cunhada pela pensadora francesa Simone de Bouveau. A idéia que se fazia da mulher (segundo preconceitos antigos) era de um ser meigo e frágil; mãe por excelência, (tal como se pensa até hoje) ainda que incapaz de dirigir a sua própria vida – incapaz igualmente, dada sua bondade natural, de cometer atrocidades como as praticadas pelos homens, como observamos no decorrer da História e tal como a prática diária nos mostra. Como se vê, idéias permeadas de preconceitos e tabus. É difícil redirecionar esse olhar e reconhecer que a mulher pode ser tão cruel quanto o homem. E que, movida pela inveja, ou por outros sentimentos devastadores, como o ciúme, seja capaz de praticar crimes hediondos. Na realidade, para o bem e para o mal, ambos estão em igualdade de condições, tanto o homem quanto a mulher correm paralelos quando se trata de praticar o mal. A bondade ou a maldade independem de gênero. A questão é puramente pessoal, individual.
Educação cristã – Nesse sentido, a educação das meninas merece a mesma atenção que a dos meninos no que se refere à prevenção da agressividade e da violência. Necessita ser alicerçada no amor conforme ensinou e praticou o Mestre dos mestres – Jesus Cristo. É no amor cristão, a verdadeira Rocha sobre a qual deve alicerçar-se qualquer processo educacional. Todas as pessoas precisam daquele ‘conhecimento que vem do alto’, para aprender a crescer como ser humano para não viver num relacionamento dilacerante, animalesco e diabólico com seu semelhante. A mulher – mãe, por natureza – deve reconhecer-se o mais cedo possível como guardiã da vida. Conscientizar-se de seu papel de “depositária fiel” da herança do Senhor, que são os filhos. Sem a direção que nos dá a palavra de Deus, a luta que todos fatalmente têm que travar para vencer a si mesmos será inglória. Sem perda de tempo, deve-se começar na infância o ensinamento para a prática do amor cristão. Uma vez que Deus ama a todos da mesma maneira, sem as exceções baseadas em parâmetros humanos.
O combate à inveja torna-se um dos principais alvos a ser alcançado em se tratando de educação infantil. Para alcançá-lo os próprios pais precisam ser os primeiros a não cultivar esse sentimento
‘animal e diabólico’, pois, onde há inveja há perturbação e toda obra perversa, como nos adverte o apóstolo Tiago. Outra coisa a ser lembrada é que os filhos são reflexo dos pais. Há muito que meditar sobre esse assunto.







domingo, 24 de abril de 2016

                                   AVAREZA É IDOLATRIA

                                                                           Rachel Winter
 A avareza – sovinice, pão-durismo – é um defeito com um aspecto cômico, que chega a mascarar o seu caráter maligno. Dentre as fraquezas humanas é uma das mais caricaturáveis, tanto no cotidiano, como na imprensa e na literatura mundial, onde inspirou obras-primas,como David Coperfield, de Charles Dickens. No dia-a-dia, deparamo-nos frequentemente com aquele tipo de pessoa que não empresta nem dá nada pra ninguém, sequer um trocado para um mendigo com a desculpa de que é vagabundo. Nega-se, de cara fechada, a prestar uma simples informação. Vive num mundo minúsculo. Esse defeito, muito explorado pelos humoristas, é mais perigoso do que se imagina. A Bíblia é categórica a seu respeito: “Porque bem sabeis isto: que nenhum fornicário, ou impuro, ou avarento, o qual é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus”. (Efésios 5:5).
Diferente de economia - Evitar desperdícios em qualquer setor da vida é sinal de bom senso. Mas sem neurose! Sem chegar a ponto de colocar a vassoura atrás da porta quando parentes ou conhecidos vêem “fazer uma boquinha”. A diferença entre economia e avareza é o sentimento de apego ao dinheiro em si, como um valor absoluto e não como meio de troca. Quem é sovina, seja rico ou pobre, sofre demasiadamente na hora de gastá-lo, mesmo com coisas fundamentais. É como se estivessem arrancando-lhe parte do corpo na hora de despendê-lo ou desfazer-se de algum objeto valioso. Os exemplos são inumeráveis, alguns bem trágicos: num edifício que desabou, há anos, numa das praias do Paraná, enquanto os moradores fugiam, uma senhora resolveu voltar para pegar o carro na garagem, apesar dos avisos dos circundantes sobre o perigo iminente. Ficou soterrada. Trocou a vida por um carro... Outra, ao ser assaltada num sinaleiro, resistiu. O tiro disparado pelo trombadinha acertou-a mortalmente. Trocou a vida por uma corrente de ouro...Casos como esses mostram quais os verdadeiros objetos de adoração de seus protagonistas. Entre a bolsa e a vida – inacreditável - muitos preferem a bolsa.
Não eram dessa espécie, certamente, as mulheres que ajudavam a Jesus com seus bens: “Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, e Suzana e muitas outras que o serviam com suas fazendas.” (Fazendas, aqui, significa bens ou dinheiro). (Lucas 8:3). Eram, sim, movidas pelo altruísmo e pela generosidade resultado de uma fé verdadeira. Graças a pessoas dessa estirpe é que a igreja se mantém - materialmente. São o seu sustentáculo em todas as épocas.
Ao nível da loucura - “Os furtos, a avareza, as maldades, o engano, a dissolução, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Todos estes males procedem de dentro e contaminam o homem”. (Marcos 7:23-23). Um pouco antes, no versículo 15, Jesus Cristo explicara que somente o que “sai” do homem contamina-o. É o caso da avareza, que faz com que a pessoa procure se isolar para fugir a qualquer partilha, mesmo afetiva, quanto mais social ou material. É como se vivesse de quarentena, vítima de mal contagioso.
Ao lado da prostituição - “Mas a prostituição, e toda a impureza ou avareza, nem ainda se nomeie entre vós, como convém a santos.” Esta citação se encontra em Efésios 5:3, onde se vê este sórdido apego ao dinheiro colocado ao lado da prostituição. Sem apelação, a Bíblia condena a avareza - uma das mil faces da idolatria - em mais ou menos 34 citações entre o Velho e o Novo Testamento.





quarta-feira, 13 de abril de 2016

                                       MULHERES ESPANCADAS
                                                                                                                                                                                  Rachel Winter
Dados estatísticos revelam que, a cada 15 segundos, uma mulher brasileira é espancada. Este fato vem, certamente, surpreender a todos que acreditam que com leis tão progressistas para proteção dos direitos femininos, costumes bárbaros como agressão física haviam sido banidos da sociedade. Grande engano, como se vê. Conforme observou a secretária dos Direitos da Mulher, Solange Bentes: “A violência contra a mulher tem uma conotação cultural muito forte, em nosso país.”
Esse registro chocante sobre agressões à mulher, consta de um levantamento feito a partir de 1985, e que se encontra no chamado Relatório Nacional Brasileiro, lançado, ainda, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. E, como seria de esperar, setenta por cento dos incidentes acontecem dentro de casa e o agressor é o próprio marido ou companheiro da vítima.
Tortura no lar – Deve ser bem triste a vida no lar em que o marido costuma agredir mulher e filhos. (Marido violento, geralmente, é pai violento). Num ambiente assim, de permanente tensão, o medo é o denominador comum, como numa prisão, tipo Carandiru, Bangu e assemelhadas; sem exagero, pois pancada machuca, mutila e causa dor, venha da parte de quem vier, carcereiro, marido ou pai, e aconteça na penitenciária ou no “lar”.
Quanto aos filhos, independente de serem ou não agredidos, são marcados por seqüelas psicológicas que os acompanham pelo resto da vida, traumatizados pela visão das cenas do pai atacando a mãe. É dor que nunca acaba. São feridas incuráveis que ficam no coração dos filhos, na mente torturada da mulher ou nas mutilações físicas de que muitas delas são vítimas.  Que filho poderá esquecer os gritos de dor da mãe, ou a visão da face transtornada pelo ódio, do pai agressor?
Em briga de marido e mulher... - E pensar que, até pouco tempo, a sociedade fingia que não via o fato de os maridos baterem nas esposas. A polícia interferia apenas quando a agredida quase morria ou vinha realmente a morrer. Ninguém a defendia, pois era voz geral que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher. Foram séculos de agressão impune e ignorada e de sofrimento silencioso. Hoje, pode-se creditar a essa violência contra a mulher, nos lares, a má fama que cerca o casamento entre pessoas do mundo, e o número crescente de divórcios. Se a vida em família, historicamente falando, tivesse sido muito boa, a liberdade e os direitos adquiridos pela mulher atualmente não teriam força suficiente para ameaçar a instituição do casamento, como se vê acontecer. Serviriam, esses avanços, ao contrário, para aperfeiçoá-lo, e levar o casal a ter uma vida em comum mais plena, como acontece no meio evangélico, entre pessoas verdadeiramente cristãs. Note-se, entre as verdadeiramente cristãs e não apenas evangélicas denominacionais. Entre aqueles casais que pautam sua vida pela palavra de Deus, que exorta os maridos a amar as suas mulheres como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela.” (Efésios 5:25). E diz mais: “Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém aborreceu a sua própria carne; antes a alimenta e sustenta, como também o Senhor à igreja.”[28b e 29].
Precisa dizer mais alguma coisa?





sexta-feira, 8 de abril de 2016

                                     Adultério Versus Pena de Morte
                                                                                  
                                                                           Rachel Winter

Difícil acreditar que ainda exista, em algum país do mundo, pena de morte para punir mulher acusada de adultério. Mas existe, e a Nigéria, localizada ao norte da África, é um deles. Esclareça-se, porém, que é a lei da sharia, do código penal islâmico, que determina essa penalidade e não a Constituição nigeriana, à qual o seu emprego constitui uma violação. Mas, como a Nigéria, país mais populoso da África, acha-se entre os estados onde predomina a religião muçulmana, a lei da sharia está em permanente confronto com a Constituição do país.
Triste situação - O caso da nigeriana, Amina Lawal, condenada à morte por apedrejamento, porque praticou adultério, e que foi acompanhado passo a passo pela imprensa mundial, deixou o mundo pasmo e em cruciante expectativa. Felizmente, acabou bem, a Justiça decidiu absolvê-la porque julgou que ela não havia tido oportunidade de se defender. E, com certeza, pesou muito na absolvição o clamor das entidades de direitos humanos de diversos países.
Essa mulher, de 30 anos de idade, estava separada do marido quando engravidou do namorado que não queria o bebê. Uma semana depois de a criança nascer, Amina foi presa por adultério, e o fantasma da morte por apedrejamento, chamado de lapidação, passou a ameaçá-la. Nesse tipo de pena, a pessoa é enterrada até a cintura e apedrejada até a morte. A curiosidade, natural num caso como esse, nos leva a indagar o seguinte: se isso realmente tivesse acontecido, será que o namorado iria assistir à execução de sua “amada” e vê-la despedir-se da filhinha, fruto desse “amor”? Seria ele capaz de atirar a primeira pedra contra ela? Tal pergunta, do tipo irrespondível como aquela do escritor Machado de Assis, que indagou, através de um de seus personagens: ”Mudou o Natal ou teria mudado eu”? - não é realmente a que interessa, pode vir a interessar a algum produtor cinematográfico. A que nos interessa mesmo é a que foi dada por Nosso Senhor Jesus Cristo, em caso semelhante ao de Amina Lawal, relatado no capítulo 8 do Evangelho de João. Nesse texto, conta-se que os escribas e fariseus levaram a Jesus Cristo uma mulher “apanhada no próprio ato adulterando” e perguntaram-lhe se ela deveria ser apedrejada, tal como mandava naquele tempo a lei mosaica; Jesus Cristo, após alguns minutos em silêncio, respondeu-lhes: “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.” Ao ouvir isso, os acusadores foram-se retirando até que permaneceu somente a acusada diante de Jesus, que lhe perguntou: “Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? Ao que ela respondeu: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno: vai-te, e não peques mais.
Jesus condenou o pecado do adultério, exortando a adúltera a não pecar mais, contudo, perdoou-a e salvou-a da morte. Aliás, o que se poderia esperar daquEle que veio para nos trazer “vida e vida em abundância” ? e que é chamado de “o amor de Deus”, e de “o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo? – só libertação, perdão e vida em toda a plenitude de seu significado, indubitavelmente.
Exemplo divino – São tantas as lições a serem tiradas dessa atitude de Jesus que é impossível comentá-las todas neste espaço. Mas que fiquem em destaque ao menos duas delas: a primeira, que não devemos julgar os nossos semelhantes e muito menos condená-los, pois o julgamento pertence a Deus, e Deus é sempre compassivo e misericordioso. Devemos, sim, batalhar pela regeneração dos que erram, exercitando o perdão, e procurando ganhá-los para Cristo. Quanto à Justiça terrena, no desempenho de sua função de julgar e punir, ao lançar mão de castigos cruéis e desumanos estará prestando um desserviço à sociedade. Se cabe à Justiça determinar que os desonestos e os criminosos sejam separados do convívio das pessoas de bem, a fim de protegê-las, não está certo impingir-lhes castigos cruéis. Agindo assim estará tornando-os ainda mais ferozes e perigosos. Os que transgridem a lei precisam pagar pelos seus crimes, sem dúvida alguma, mas, tendo-se em vista possibilidade de sua reintegração à sociedade. E pena de morte, jamais!
A segunda lição é a que se refere à libertação feminina e ao crescimento da mulher nas sociedades que foram alcançadas pela mensagem da cruz. (Repito, incansavelmente, Jesus Cristo foi o responsável pela emancipação feminina, tal como se observa hoje no mundo ocidental, quando afrontou os costumes daquela época, que oprimiam e escravizavam a mulher).
 Se compararmos a situação da mulher dos países cristãos com a da mulher dos países não-cristãos veremos que a diferença é gritante.O atraso em que vivem estas últimas evidencia-se pela pouca ou nenhuma expressão que possuem no nível social ou político e, até mesmo, no âmbito da religião deles. Tudo conseqüência das leis perversas e desumanas que as oprime. A mulher da sociedade ocidental cristã cresceu socialmente, adquiriu cultura, emancipou-se e foi alçada a postos de comando dentro do contexto político e social. Caminha ao lado do homem, em situação de igualdade perante a lei. As outras vivem segundo costumes bárbaros, escravizadas e tratadas como objetos e não como gente. Será que as mulheres cristãs possuem a noção exata do alcance dos benefícios que lhes foram proporcionados por Jesus Cristo, especificamente a elas? A que realmente tiver essa consciência, diariamente, haverá de exclamar: “Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. É ele que perdoa todas as tuas iniqüidades, e sara todas as tuas enfermidades; Quem redime a tua vida da perdição, e te coroa de benignidade e de misericórdia. Quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a águia.” (Salmo 103: 1 a 5). Glória a Deus!



segunda-feira, 4 de abril de 2016

   AS TRÊS MULHERES – ESCLARECIMENTO OPORTUNO
Atribui-se a ideia de pecadora, que se apegou ao nome de Maria Madalena, à confusão que popularmente se faz a respeito de três mulheres, citadas no Novo Testa­mento. Primeiramente, por confundi-la com a pecadora (anônima), mencionada no livro de Lucas (7.36-50); por analogia à protagonista do episódio, tida pelo povo como a própria Madalena, foi fácil acrescentar ao seu nome o apelido “Arrependida”. Prova cabal de que, na mentali­dade popular, seu nome tornou-se, sem qualquer base bíblica, sinônimo de pecadora – arrependida.
O texto bíblico faz menção a uma mulher realmen­te tachada de pecadora, que ungiu os pés de Jesus na casa do fariseu, chamado Simão. Esse homem escandalizou-se com a cena, pensando que Jesus não a tivesse reconhe­cido como tal e, por isso, até duvidando que Jesus fosse mesmo um profeta. Mas, o Salvador, que é mais que um profeta, tinha conhecimento disso e, também, do que o fariseu estava pensando.
Os versículos 37 e 38, descrevem-na literalmente como pecadora: E eis que uma mulher da cidade, uma pe­cadora, sabendo que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-os com os cabelos da sua ca­beça; e beijava-lhes os pés, e ungia-os com o unguento.
Apesar de ter recebido o cognome de pecadora, a mulher cujo nome não é mencionado no Evangelho, seria realmente uma meretriz? Será que as palavras pe­cadora, meretriz ou prostituta, no caso, poderiam ser tomadas como sinônimos? Sobre o assunto, a escritora Lilia Sebastiani pondera de modo oportuno que, se um homem tivesse se aproximado de Jesus, naquele dia, na casa do fariseu, para pedir-lhe o perdão dos seus pecados – um pecador portanto – “ninguém seria levado a pensar exclusivamente em faltas de natureza sexual.” Seria, re­almente, inconcebível. Quem ousaria imaginá-lo envol­vido com prostituição?
Na esteira desse raciocínio, a pesquisadora anali­sando os elementos que compõem a cena e observa:
É muito mais antiga do que o cristianismo a as­sociação mental espontânea mulher-pecado-sexo. Ali se encontravam dois elementos, mulher e pecado, em um clima de acentuada e perturbadora feminilidade. É total­mente instintivo para uma cultura patriarcal identificar a mulher com o sexo e, portanto, a pecadora se torna logo uma prostituta, a mulher “ocasião de pecado” por exce­lência.
Não obstante, ao confundir Madalena com aquela pecadora, e deduzir ser ela (Madalena - ou ambas) me­retriz, pode ocorrer de um mito estar alicerçado sobre outro mito. A malícia humana, como a história de Ma­dalena nos mostra, optou pelo pior. Assim como a esco­lha de Barrabás (Mateus 27.11-31), o qual se livrou da morte, em lugar de Jesus, por escolha do povo, é apenas mais um dentre tantos exemplos bíblicos e históricos da opção humana pelo mal. De igual modo, quanto àquela “pecadora”, não há provas de que o seu pecado fosse o da prostituição; nem que Maria de Magdala fosse meretriz. A outra, das três mulheres era Maria de Betânia –irmã de Marta e de Lázaro, ressuscitado por Jesus. Ela é identificada como a outra mulher que, também, ungiu, os pés de Jesus. Todavia, seu gesto teve finalidade diferente, que não a do perdão dos próprios pecados, esclarecida no evangelho de João (12. 1-11). Reconhecida como Maria de Betânia, no texto joanino, nos outros evangelhos seu nome não é mencionado, mas, apenas narrado o acon­tecimento do qual participou. Ocasião que serviu para demonstrar que ela tinha presciência da morte próxima de Jesus. Inferência obtida pela resposta dada por Jesus, quando Judas Iscariotes, na ocasião, reclamou que se po­deria vender o unguento, que era de altíssimo preço, para dar o dinheiro aos pobres. Disse, pois, Jesus: Deixai-a, para o dia da minha sepultura guardou isto (v.7). Surpre­endente a atitude dessa discípula, aprestando-se a ungir Jesus, por pressentir a proximidade de Sua morte, era um assunto a respeito do qual os outros discípulos pareciam não ter uma noção clara.
A outra das três mulheres, a verdadeira mensageira de ressurreição – Maria Madalena - foi quem, na mente popular, e até mesmo em alguns ambientes eclesiais, teve seu nome fundido com o das outras duas. Ela que, na re­alidade, veio a ser chamada Apóstola dos Apóstolos.
Uma parte da responsabilidade pela fusão dos três nomes em uma só pessoa cabe, também, ao fato de que, durante sé­culos, o povo não teve acesso direto à leitura da Bíblia. Até as primeiras quatro ou cinco décadas do século vinte, no Brasil, eram muito raras as edições das Escrituras em português, e o seu preço, muito alto. No resto do mundo não era muito diferente, à exceção dos Estados Unidos e de alguns países cristãos da Europa, posto que a impren­sa não havia alcançado o alto grau de desenvolvimento que hoje possui e que fez com que o preço dos livros se tornasse mais acessível à população em geral. O anal­fabetismo era outro obstáculo para o conhecimento da Palavra. Outrossim, não se pode esquecer que, na Igreja Católica, a leitura direta da Bíblia era vetada ao povo, o qual, segundo os religiosos, seria incapaz de entendê-la.