segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

           PRINCÍPIO DE DIREITO VERSUS MORAL CRISTÃ
O princípio da submissão das mulheres aos mari­dos, conforme entendem alguns estudiosos, não se trata de um preceito da mo­ral cristã, mas, de um princípio de direito, comum nas sociedades judaica e greco-romana. Paulo respeitava-o, não afrontando as suas leis, quer as regulamentadas pelo direito, em seus termos legais, quer as ditadas pelos cos­tumes. Atitude, aliás, recomendada explicitamente, tam­bém, pelo apóstolo Pedro a todos os cristãos para não cor­rerem o risco de passar por malfeitores. (1 Pedro 2. 12-17). Pela observância às leis vigentes, dariam bom exemplo de vida a fim de que o Evangelho não fosse difamado.
O importante, então, nos textos de Efésios, bem como em Colossenses, que tratam do referido assunto, não é a submissão comumente tida como aviltante, que coloca a esposa em situação de inferioridade, mas, sim, segundo observam alguns teólogos a referência a seguir na frase bíblica: Como convém no Senhor (Colossenses 3.18). O Senhor no comando de todos os aspectos do relacio­namento conjugal; domínio não mais do direito, mas, aí sim, da ética cristã. Trata-se de mandamento divino; fala-se, então, do amor cristão, daquele amor marcado pelo dom de si mesmo – do amor ágape, semelhante ao amor de Cristo, em que a pessoa é capaz de doar sua vida para salvar outra.
Não seria correto confundir um princípio consue­tudinário e do direito, com um princípio fundamental da moral cristã, a fim de manter uma filha de Deus sujeita ao arbítrio de qualquer cidadão de maus bofes. Quando Paulo fala, não trata de uma questão de hierarquização grosseira, tal como o marido manda e a mulher obede­ce. Atitude bem conforme ao gosto da mentalidade ma­chista e da interpretação que os cronistas mundanos dão às palavras de Paulo registradas nos Evangelhos. A ju­risprudência e os costumes das sociedades de antanho ratificavam a discriminação contra a mulher. Hoje, in­corre em erro, hoje, quem leva essas palavras ao pé da letra – reconhecendo o seu emprego em qualquer tipo de casamento. O Senhor não endossa a escravização da mu­lher pelo marido. Cristianismo é sinônimo de liberda­de. A mulher deve submeter-se à autoridade do marido verdadeiramente cristão, porque dentro da moral cristã a relação marido-mulher toma outra forma, por ser es­truturada no amor. Certamente, um sentimento diverso e mais grandioso do que aquele puramente romântico e carnal.
Trata-se, portanto, de outro texto bíblico, o da sub­missão da esposa, interpretado de maneira falaz, para apoiar a tirania contra a mulher, a subserviência e o ser­vilismo dentro de casa e na sociedade. Muitos maridos, os mais simples e desavisados chegam a encarar a esposa como uma serviçal, no sentido literal da palavra. Res­ponsabilidade, injustamente, atribuída, ao apóstolo Pau­lo quanto às consequências nefastas que tal interpretação tem trazido ao fraudar os direitos das mulheres cristãs.
Todavia, responsáveis por esses enganos são as interpretações literais das cartas paulinas, que só bene­ficiam os próprios homens. Para eles é conveniente es­corar-se sob a proteção da mentalidade patriarcal para auferir vantagens e comodidades que esse modo de pen­sar lhes faculta. Nunca é demais lembrar que patriarcado tem sido sinônimo de despotismo contra as mulheres.
No momento em que Cristo enviou as mulheres para dar a notícia de Sua ressurreição, não consta que Ele as tenha mandado primeiro pedir autorização aos seus maridos, pais ou responsáveis, para cumprirem a missão. Independência e autonomia feminina ficaram claramen­te demonstradas nessa ocasião. Fato que nos leva a con­cluir que até mesmo acatando a autoridade do marido, a autonomia espiritual da esposa cristã, deve ser colocada em primeiro lugar. Convém, observar, também, paz e li­berdade devem permear o relacionamento entre marido e mulher, no lar genuinamente cristão.
Em síntese, o amor cristão propõe a questão da se­guinte maneira: o respeito e o amor que a mulher deve ao marido são proporcionais aos que o marido deve à esposa. Será impossível a uma esposa que compreende a orientação bíblica - sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor - deixar de reverenciá-lo. A palavra submis­são, neste caso, toma um sentido de reconhecimento, res­peito e amor. Nada a ver, portanto, com o significado que adquiriu no nível mundano, que é de subalternidade: a mulher colocada em segundo plano, inferior ao homem.

A igualdade entre as pessoas está no cerne do cris­tianismo, porque Deus não faz acepção de pessoas. (Atos 10.34). (Continua).

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