domingo, 25 de outubro de 2015

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                   SEXISMO QUE CULMINOU EM GENOCÍDIO
O martírio de mulheres, do qual se tem apenas vis­lumbres e que não é circunscrito apenas às perseguições de que foram vítimas, nos primeiros séculos do cristia­nismo, tem sido muito pouco divulgado. Assunto, como se viu, comentado nos capítulos sobre as Mártires Cristãs e no Atos das Apóstolas. Os feitos heróicos ou trágicos que a História registra falam, especialmente, de protago­nistas homens. Pouco se noticia, por exemplo, sobre a perseguição implacável à mulher no período medieval, pelos tribunais eclesiásticos da Inquisição, da Igreja Ca­tólica. História bem pouco conhecida no que se refere à participação da mulher e cujos detalhes tendem a ser esmaecidos com o passar dos anos.
Seria muito bom que as mulheres conhecessem a saga de suas antepassadas para colaborar na formação de um conceito melhor e menos leviano acerca de si mes­mas. Já se afirmou que “a raiz da opres­são é a falta de memória.”
O conhecimento da própria história poderá, tam­bém, ajudar a acabar com os estereótipos populares so­bre a mulher, caricaturada como “caras e bocas”, longas unhas pintadas e sapatos de salto alto. Tal retrato em for­ma de caricatura tende a escamotear o verdadeiro valor da mulher como ser humano. Não podemos nos omitir e deixar no esquecimento o fato de que muitas vidas foram ceifadas, não apenas pelas fogueiras da Inquisição, mas pela força descomunal do preconceito conhecido como sexismo.
O pouco que se preservou dos acontecimentos do período inquisitorial mostra que a maioria das mulheres foi martirizada simplesmente por ser mulher. O gênero feminino causava desconfiança. O fantasma da maldição de Eva não havia sido, ainda, exorcizado. Os sinais feitos por Cristo aqui na Terra, sobre a libertação da mulher, não haviam sido assimilados pela mente masculina, nem pelo povo, nem pelos religiosos, principalmente, por es­tes. Talvez, nem as próprias mulheres tivessem noção dessa realidade; como até hoje acontece. Ressoa, há intermináveis séculos, na memória da mulher, o mea-culpa, pelo primeiro pecado.
Jacques Sprenger, inquisidor e teórico da demono­logia, dizia: ”Se hoje queimamos as bruxas, é por causa de seu sexo feminino.” Outro inquisidor, observa a res­peito da menstruação:
Mensalmente elas se enchem de elementos supér­fluos e o sangue faz exalar vapores que se elevam e pas­sam pela boca e pelas narinas e outros condutos do corpo, lançando feitiços sobre tudo que elas encontram.116
O corpo da mulher era, em si mesmo, tido como fonte de malefícios, não só pela lembrança de Eva, mas também pela falta de conhecimento sobre a fisiologia fe­minina. Os disparates que diziam a respeito da menstru­ação beirava os limites da sandice. Nesse tempo, vivia-se a idolatria do corpo masculino; herança de costumes pagãos cujos cultos alcançavam seu ponto máximo nas chamadas festas de Falofórias.
No período inquisitorial, que se inicia na Idade Média e vai até o século 16, no qual se intensificam as perseguições e as condenações à morte na fogueira, mi­lhares de mulheres foram submetidas às mais atrozes tor­turas e, depois assassinadas. A perseguição, sem dúvida avassaladora, movida contra os judeus pelos tribunais eclesiásticos, perante os quais eram tidos como here­ges, aparece com destaque nos registros históricos. Não obstante, entre os condenados a proporção era de nove mulheres para cada homem, segundo dados históricos; e disso pouco se fala.
“É pelo sexo, por natureza impuro e maléfico, que ela se faz bruxa.” Esse pensamento, de um dos inquisi­dores, fundamentado nos ritos de Sabá, deixa entrever a essência que levou ao verdadeiro genocídio perpetrado contra a mulher na época da Inquisição. A luta era contra o gênero feminino; a desculpa apresentada era a de prá­tica de bruxaria – especialmente contra a mulher – e de heresia. As vítimas eram escolhidas aleatoriamente como objetos de uma ação discriminatória, alvos de furioso preconceito. As acusadas dificilmente conseguiam pro­var que os crimes contra elas assacados eram imaginários ou caluniosos, ainda sendo inocentes. Confirmação de que contra a força não há argumento.

Contudo, não se tem notícia de genocídio perpe­trado contra bruxos. Refiro-me, claramente, a genocídios e não à morte de um ou outro homem condenado por bruxaria. Certamente, porque o corpo masculino era tido, “por natureza” como puro e benéfico... ao contrário do que pensavam sobre o corpo feminino. (Continua).

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