domingo, 20 de setembro de 2015

                         SÉCULOS DE RETROCESSO DA IGREJA
Mesmo com a Reforma protestante, não ocorreram mudanças significativas no modelo patriarcal-clerical da Igreja. A grande mudança operou-se, evidentemente, no que se refere à fidelidade à palavra de Deus; haja vista, a famosa exortação de Lutero: Sola Scriptura. Excepcio­nalmente, porém, uma mudança significativa sobressai, referente à organização da Igreja. Trata-se do surgimento da família patriarcal-clerical. A referida mudança criou um cargo para a mulher - o de esposa de Pastor. Por intermédio desse cargo, surgiu a oportunida­de de prestar maiores serviços no âmbito da Igreja, na área de ensino e, de maneira meio escamoteada, da pre­gação da Palavra, sem que disso se fizesse muito alarde. A mudança, porém, atingiu umas poucas senhoras frente a uma multidão de mulheres silenciosas e excluídas dos trabalhos cristãos de liderança, chamadas apenas para trabalhos de menor responsabilidade.
Outra exceção verificou-se a partir do século 19, ocorrida entre os Metodistas e os Cristãos da Bíblia, e configurou-se numa grande abertura – ou reabertura – quando são admitidas pregadoras e realizam-se eleições para episcopisas, cargo equivalente ao de bispo. Mulhe­res, então, passam a integrar a cúpula da organização eclesial metodista. Exceção que serviu para confirmar a regra da involução das outras denominações, (em com­paração com o trabalho dos primeiros cristãos) no que diz respeito à apatia que tomou conta da Igreja ao relegar a atividade feminina a segundo plano.
No Brasil, do século 20, com o surgimento das Igre­jas Neo-Pentecostais, a mulher passou a deixar o seu si­lêncio milenar. Hoje, já se tem notícia de mulheres exer­cendo cargo de Pastoras, livres de quaisquer empecilhos, e atuando nos demais setores da Igreja, graças a Deus! Esse fato parece confirmar o pensamento da escritora Maria L. Boccia, ao detectar um padrão comportamental na História da Igreja, que opera da seguinte maneira:
Quando a liderança envolvia a escolha carismática de líderes, da parte de Deus, mediante a dádiva do Espí­rito Santo, as mulheres foram incluídas. Com o passar do tempo, a liderança é institucionalizada, a cultura patriarcal secular se infiltra na Igreja e as mulheres são excluídas.
Diante do  reavivamento espiritual, característi­ca marcante do movimento pentecostal, sob a direção do Espírito Santo, é natural que ocorra, especialmente, o que foi preconizado em Gálatas 3.28. Isto é, graças à unidade dos crentes em Cristo, são quebradas as barreiras que se­param as pessoas, especialmente por questão de gênero.
Durante os séculos de retrocesso da Igreja - em comparação com o fervor que avivava o primitivo movi­mento cristão, e ao expressivo desempenho feminino de então - o silêncio da mulher brasileira, em maior grau que a das suas irmãs de outros países do Primeiro Mun­do, raramente viu-se quebrado. Vimos, porém, missio­nárias de outros países virem trabalhar na evangelização e ensino da Palavra em solo brasileiro; e, ainda que com sotaque estrangeiro, vozes femininas eram ouvidas den­tro da jovem Igreja do Brasil. Agora, os tempos são ou­tros, a apatia vai ficando para trás, e temos consciência de que vivemos, realmente, na era da Graça, sob a égide do Espírito Santo. A mulher brasileira começa a aquecer a voz, por tanto tempo silenciada, a fim de proclamar a mensagem da cruz. Deus seja louvado!

No entanto, o debate sobre o assunto continua vivo nas congregações do país, em contraste com a aquiescên­cia há muito obtida na grande maioria das Igrejas evangé­licas da Europa e dos Estados Unidos. Segundo Duncan Reily, essas instituições religiosas já responderam “sim” às questões: “Pode a mulher legitimamente ser ordenada sacerdotisa? Pode, portanto, a mulher licitamente minis­trar a Eucaristia?” As respostas afirmativas – há mui­to respondidas - contrastam, apenas, com a negativa da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa, totalmente contrárias ao ministério ordenado da mulher. (CONTINUA).

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

                            PROFETIZAS DO ANTIGO TESTAMENTO
Ao analisar o papel da mulher, como profetiza, no Antigo Testamento, o professor Eduardo Getão afirma: O Antigo Testamento legitima a tarefa bem como a vali­dade das ações proféticas no cumprimento das profecias. Neste período observa-se o reconhecimento da missão profética desenvolvida pela mulher.
Apesar da grande importância que a profecia re­presentou para o povo de Israel, o registro desses acon­tecimentos - no que concerne ao seu exercício por par­te das mulheres – é parco em detalhes; o que pode ser creditado ao predomínio da linguagem androcêntrica da narrativa bíblica. A Bíblia, escrita por homens, deixa de registrar a maioria dos feitos realizados pelas mulheres. Ainda assim, o essencial foi escrito, e menciona grandes nomes femininos ligados à atividade profética como os de Miriã, Débora e Hulda. Os eruditos concordam com a afirmação de que as profetisas do Antigo Testamento realizaram um autêntico e verdadeiro ministério proféti­co entre os filhos de Israel. Convém notar, também, que Miriã e Débora exerceram atividades políticas de grande importância para a nação israelense.
Miriã
Então Miriã, a profetiza, irmã de Aarão (e de Moi­sés), tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tambores e com danças. (Êxodo 15. 20, 21).
Esse relato nos dá uma perfeita mostra da influên­cia exercida por Miriã sobre as mulheres israelenses. Epi­sódio no qual elas foram unânimes em segui-la na dança jubilosa de agradecimento a Deus, por ter livrado o povo das mãos de Faraó. Por Ele ter aberto o Mar Vermelho para Israel passar, Miriã entoava: Cantai ao Senhor, por­que sumamente se exaltou, e lançou no mar o cavalo e o cavaleiro. (v.21). Tais palavras referem-se ao fato de que após o povo de Israel passar, em seco, pelo meio do mar e, tendo o exército do Faraó tentado segui-lo, foi tragado pelas águas. Pereceram cavalos e cavaleiros levando con­sigo todas as armas de guerra.
Sobre o desempenho de Miriã, Thomas R. Schrei­ner declara: É simplesmente errado concluir que Miriã ministrava apenas às mulheres. As histórias sobre Miriã mostram que ela foi realmente uma figura pública, um membro do trio de líderes em Israel. 
Débora
Débora, profetiza, como claramente é declarado no livro de Juízes 4. 4-5, associava esse ministério ao cargo de juíza. Seu lugar de trabalho e de moradia era debai­xo das palmeiras, chamadas palmeiras de Débora, entre Ramá e Betel, região montanhosa de Efraim (Juízes 4.5), onde as pessoas se reuniam para os julgamentos sob a sua autoridade.
Um aspecto pouco observado e difundido de sua bio­grafia é o seu lado guerreiro, no sentido literal da palavra, posto que partiu dela a iniciativa de declarar guerra ao chefe do exército de Canaã, chamado Sísera. Isso aconteceu quan­do Israel achou-se num momento crítico de sua História, sob grande ameaça desse povo inimigo. Havia vinte anos que os israelitas vinham sendo pressionados pelos cananeus.
O motivo que levou Débora tanto a declarar a guer­ra como a participar dela foi a atitude indecisa de Ba­raque em cumprir a ordem de Deus a esse respeito. O Senhor havia ordenado a ele atrair o exército inimigo ao monte Tabor, levando com ele dez mil homens dos filhos de Naftali e dos filhos de Zebulom, porque lhe daria a vitória sobre Sísera. Porém, Baraque hesitava em pôr em prática a orientação dada pelo Senhor. Por esse motivo, Débora mandou chamá-lo, cobrando explicações. Bara­que respondeu que, finalmente, enfrentaria o exército inimigo, mas, impôs uma condição, (Juízes 4.8b) iria so­mente se Débora fosse com ele, caso contrário não iria. Diante disso, Débora prontificou-se a acompanhá-lo.
A explicação que se tem quanto à atitude de Bara­que, procurando apoiar-se em Débora, seria por ignorar a data em que deveria dar início à batalha. Ela poderia ajudá-lo, ao profetizar sobre a questão, caso o acompa­nhasse nessa luta. Explicação, a que as palavras dela vêm corroborar, pois, quando já se encontrava no monte Ta­bor, local designado para a peleja, diz a Baraque: Levan­ta-te, porque este é o dia em que o Senhor tem dado a Sísera na tua mão: porventura o Senhor não saiu diante de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil homens após ele (v.14). O que, à primeira vista, pode­ria parecer uma atitude pusilânime de Baraque - depen­der da companhia de uma mulher para acompanhá-lo na batalha - não foi mais que um recurso hábil de sua parte por uma questão de prudência; visto que, contar com a ajuda de uma palavra profética, indicando-lhe o melhor momento para atacar o exército inimigo, representaria, sem dúvida, grande vantagem. Outrossim, o fato mostra quão respeitado e veraz era o ministério profético dessa mulher.
O desfecho da batalha dá-se com a vitória de Israel; e, graças à missão patrocinada pela profetiza, a nação go­zou de estabilidade por quarenta anos. O mérito da vitória coube a ela. Antecipadamente, Débora avisara Baraque so­bre essa questão, ao assentir em acompanhá-lo ao campo de batalha. Os louros da vitória, avisou-o, não seriam cre­ditados a ele, mas a ela e, de fato, assim aconteceu.
Nesse episódio, não pode ser esquecido mais um nome de mulher, o de Jael; protagonista de um incidente violento, foi ela quem deu o golpe de misericórdia em Sísera. (Juízes 4.18-24).

Não podemos deixar de lado, também, outro dos pre­dicados de Débora, qual seja, o seu talento de musicista. O capítulo 5, de Juízes, é inteiramente dedicado ao registro do seu cântico de vitória por Israel, entoado por ela na presen­ça de toda a nação. (Juízes 5.1-32). Num dos seus versos ela exclama: Eu Débora, me levantei por mãe em Israel. (v.7b). ( Continua).