sábado, 25 de abril de 2015

A PRUDENCIA E A FÉ

                                                    A PRUDÊNCIA E A FÉ

                                                                      Rachel Winter                                 
Fazer seguro contra roubo revela desconfiança na proteção divina? E colocar grades nas janelas da casa demonstra que nossa fé em Deus é frágil? Estas questões e outras similares são formuladas diariamente por muitas pessoas preocupadas com a qualidade de sua própria fé, diante de fatores que geram insegurança no dia-a-dia. E chegam a ficar em dúvida até mesmo sobre se deveriam fazer seguro não-obrigatório para o carro. 
Procurando resposta nos Evangelhos, encontramos estas palavras de Jesus Cristo, no momento em que enviava os doze discípulos para a sua missão: “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas.” (Mateus 10:16).
Nós, também, vivemos perigosamente no meio de “lobos”, numa sociedade que dá de ombros aos valores morais e cuja desordem civil torna-se cada vez mais exacerbada. A frase dita por Jesus deixa claro que devemos usar a capacidade de circunspecção e sensatez (prudência) de que fomos dotados pelo próprio Deus, para nos defender e, evidentemente, cuidar dos que estão sob nossa guarda. Se possuímos inteligência e bom senso é para serem usados em nosso favor. Ao usá-los não estaremos demonstrando pouca fé. E nem incorrendo neste outro erro, que é o fazer testes para ver até que ponto Deus nos protege. Porque agindo assim estaríamos tentando a Deus.
Desafio a Deus – Quando o diabo desafiou Jesus Cristo a se atirar do pináculo do templo e “cinicamente” citou a própria Bíblia, no trecho onde diz que “aos seus anjos mandará que te guardem e que te sustenham nas mãos para que não tropeces com o teu pé em alguma pedra”, (Lucas 4: 9,10,11,12), Jesus Cristo respondeu: “Não tentarás o Senhor teu Deus.” Pronto! Esta resposta prudente e que revela respeito a Deus, serve para elucidar muitas das dúvidas mencionadas. Pelo fato de a palavra de Deus dizer que Ele nos protege, não vamos deixar a casa aberta para ver se Ele protege mesmo... A obrigação é manter a porta fechada. Cada um tem que fazer a sua parte, porque Deus sabe a hora de agir. Ele nunca falha, nem se atrasa, deixando-nos sucumbir a algum perigo. Os que crêem Nele realmente sabem disso. Conscientizemo-nos, porém, do fato de sermos seus instrumentos de ação. Ele opera através de nós. Daí, talvez, essa dificuldade de saber o que devemos deixar efetivamente em suas mãos, sem parecer irresponsabilidade nossa, e o que nos compete fazer, sem desmerecer da nossa fé. Mas, tomar precauções e ser prudente, (pois é a “nossa parte”) não demonstra falta de fé, uma vez que o próprio Cristo assim o aconselhou aos apóstolos; fazer testes e exigir provas da ação de Deus, continuamente, sim, revela certa desconfiança no seu poder protetor. Pode revelar, também, uma certa omissão dos nossos deveres.




sábado, 18 de abril de 2015

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição


                                         A MULHER ESTEJA CALADA

Em meio às controvérsias que o tema da liderança feminina suscita, os cristãos encontram-se divididos em dois grupos bem distintos. Divisão que atinge, igualmente, as classes teológica e pastoral. Contudo, a maior tendência nos dias atuais é pelo reconhecimento do direito da mu­lher de exercer, tal como o homem, todos os ministérios conforme acontecia nos primórdios do cristianismo.

Stanley J. Grenz, teólogo, classifica os representantes das duas correntes em igualitários e complementaristas.

Os primeiros, favoráveis ao pleno direito da mulher de exercer o ministério eclesial em toda a sua dimensão, assim como era nos tempos apostólicos: as apóstolas mi­litando no trabalho do Senhor ombro a ombro com os apóstolos.

Os segundos delimitam o campo da ação missionária da mulher e o seu espaço na igreja. Costumam vê-la apenas como apoiadora do trabalho do homem, complementando-o. Isso significa dizer, nunca ocupando cargo de liderança – mas, cedem a ela um pouquinho mais de espaço, em relação ao que ocupavam na sinagoga do passado.

No universo complementarista vicejam as doutri­nas criadas sobre alguns textos das cartas paulinas, que tentam colocar impedimento ao livre exercício do traba­lho da mulher na Igreja. Criar doutrinas, neste caso, sig­nifica extrair textos da Bíblia e interpretá-los livremente fora do seu contexto, sem levar em conta as injunções so­ciais e o momento histórico em que ocorreram. Conclu­são tendenciosa que apresenta um resultado bem diverso do verdadeiro sentido bíblico. Tais doutrinas tendem a valorizar ordenanças que foram direcionadas a solucio­nar problemas momentâneos e específicos da Igreja pri­mitiva como se tivessem valor perpétuo - o que acontece ao descontextualizá-las.

Nosso foco, agora, volta-se para o texto mais usado por eles para manter a mulher marginalizada dentro da Igreja: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a Lei. E, se querem aprender alguma coisa, interro­guem em casa a seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja.” (1 Coríntios 14. 34-35).

Mas, não há motivo para desespero! Vejamos a opi­nião de um ilustre igualitário, grande defensor da liber­dade feminina, Duncan A. Reily, que foi catedrático de História Eclesiástica na Faculdade de Teologia Metodista. Suas pesquisas levaram-no a concluir categoricamente:

Afirmo que algumas mulheres, em muito maior número do que geralmente se suspeita, exerceram qua­se todos, senão todos, os ministérios que seus irmãos em Cristo desempenharam.

Podemos acrescentar que, certamente, não o fize­ram silenciosamente, mas, pregando a Palavra com auto­ridade e ensinando com plena liberdade.

Os que se prendem, literalmente, às palavras de Paulo, mencionadas acima, insistem em não observar as conjunturas sociais que compeliram o apóstolo a pro­nunciá-las. Não observaram os problemas que a Igreja enfrentava naquele momento. As duas frases (vv.34-35) foram proferidas em um momento em que o apóstolo buscava disciplinar o comportamento da congregação na adoração cultual, ao tratar da necessidade de ordem no culto: Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos. (v.33).

As recomendações sobre o silêncio das mulheres na igreja, segundo o modo de ver igualitário, incluem-se entre as de caráter temporário. Destinavam-se, espe­cialmente, a solucionar mais um problema, dentre tantos outros com os quais Paulo teve de se defrontar concer­nentes à igreja de Corinto. Igreja que causou ao após­tolo incontáveis preocupações, devido às circunstâncias sociais não serem nada favoráveis ao desenvolvimento do cristianismo. Localizada na cidade conhecida por sua proverbial imoralidade, na qual imperavam as práticas pagãs da sociedade grega, Paulo lutava para fazer sobres­sair a pureza dos costumes cristãos em seu meio. A de­pravação em Corinto era de tal monta que a expressão “viver à moda de Corinto” significava viver na imorali­dade e na degradação moral. A palavra korinthiazomai significava praticar imoralidade e, korinthiastis era sinô­nimo de meretriz. No topo de uma montanha chamada Acrocorinto, localizada atrás da cidade, encontrava-se o templo de Afrodite, ou Vênus, a deusa do amor. A dis­solução moral de Corinto devia-se justamente ao culto à deusa.  (CONTINUA.)