quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

                                       O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO

Na primeira carta aos Coríntios, capítulo 15, o apósto­lo Paulo fala sobre a ressurreição de Cristo, demonstrando como esse fato representa a coluna de sustentação da nos­sa fé. Dentre as veementes considerações sobre o assunto, observe-se a do versículo 17: E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
Incontestavelmente, a ressurreição aparece como o acontecimento basilar do cristianismo, sem o que, nos­sa redenção “em Cristo” não se realizaria, e o plano de salvação de Deus para a humanidade seria frustrado. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais mise­ráveis de todos os homens (vv.18,19).
Não poderia deixar de abordar neste livro, ainda que de modo esquematizado, o grandioso tema da res­surreição; assunto sempre merecedor de estudo profun­do que possa abranger toda a sua dimensão e mistério. Porém, o desincumbir-se dessa tarefa cabe aos teólogos. Por conseguinte, abordaremos o tema resumidamente, recorrendo às palavras da Bíblia sob a luz da análise exe­gética de alguns abalizados teólogos.
Discorrer sobre a ressurreição de Cristo, interpretá-la e tentar explicá-la tem sido o grande desafio de teólogos e até mesmo de filósofos ao longo dos séculos. Protestantes e católicos têm procurado desvendar-lhe o significado na ânsia de melhor compreendê-lo e de torná-lo mais aces­sível à compreensão popular. Certamente, pelos séculos afora, continuarão a trabalhar nessa tarefa que se liga ao Eterno. Sempre há mais a ser dito, pois o tema caracteri­za-se por ser inesgotável, uma vez que trata da Fonte da Vida que é Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Será que algum dia poderemos atestar o nosso total e completo conhecimento sobre o assunto?
O mistério que envolve a ressurreição de Cristo faz presumir a Sua morte e autentica seu sentido de reden­ção. Morte e ressurreição são acontecimentos insepará­veis – redentores - que se inserem no quadro mais amplo da Escatologia: na parusia, volta gloriosa de Cristo para buscar a Sua igreja. Verdade que é, incontestavelmente, reconhecida e aceita pelas diversas correntes de interpre­tação teológica.
Nunca é demais lembrar, por causa de dúvidas e interpretações bizarras, que a ressurreição de Cristo foi literal e corpórea, não podendo ser vista apenas como espiritual ou simbólica. Haja vista, a Sua atitude, quando ressurreto, ao aparecer aos discípulos dizendo-lhes: Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: tocai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. (Lucas 24. 39, 40). Do mesmo modo será a ressurreição dos mortos da qual Cristo foi feito as primícias. (1Coríntios 15.20).
Amor inexplicável - O que a morte e a ressurreição revelam a nós, em seu substrato, continua a ser inexplicá­vel para a inteligência humana, qual seja, o amor de Deus pela humanidade. Revelação que constitui, parece inco­erência, um enigma para o intelecto, porque extrapola o nosso entendimento e compreensão. Ao falar do amor de Deus, nossa inteligência mostra-se frágil em compa­ração com o discernimento espiritual, capaz de apreen­dê-lo melhor. O evangelho de João descreve-o da seguin­te maneira: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3.16).
Todavia, é preciso transitar, também, pelo univer­so da razão. A inteligência toma conhecimento do fato: Cristo morreu e ressuscitou por nós! Com Ele ressusci­taremos para a vida eterna! Essa vitória é a base da fé cristã e motivo de nossa perene alegria. Mas como é isso? Nesse patamar, o empenho teológico vem desempenhar o seu papel, embora saibamos que o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1 Coríntios 2.14). Não obs­tante, o esforço dos estudiosos para explanar o significa­do da ressurreição merece todo o nosso reconhecimento e aplauso - ainda que o tema se apresente dividido por interpretações diversas, o que seria de esperar dada a sua tremenda complexidade e ao seu mistério.
O conhecimento intelectual que, em comparação com a sabedoria que vem do alto (Tiago 3.15), caracte­riza-se por ser limitado, esforça-se tenazmente para ex­plicar o significado do mistério pascal e compreender os seus diversos passos. Nesse embate, surgem diferentes enfoques tanto no meio evangélico como entre católicos. Oportunas são as palavras de Paulo ao afirmar: Porque ago­ra vemos por espelho em enigma... (1 Coríntios 13.12a).
Acentue-se, porém, que em nada as diferenças no modo de pensar a ressurreição, algumas das quais cita­remos a seguir, afetam a fé na certeza de que se trata de acontecimento fundamental para a fé cristã. Sobre essa verdade os eruditos cristãos estudam e trabalham tal qual mineradores em busca de tesouros escondidos.
Não se entenda, porém, que o trabalho de exege­se dos pesquisadores se faça unicamente no nível inte­lectual, apartado da revelação e da unção de Deus. De modo algum, possa entender-se assim. Antes, devemos reconhecer o seu esforço para trazer ao nível da razão as coisas maravilhosíssimas que pertencem ao universo do espírito – até quanto isto seja possível - porque as coisas encobertas são para o Senhor nosso Deus: porém as re­veladas são para nós (Deuteronômio 29. 29a). (Continua).


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