domingo, 6 de abril de 2014

Trecho extraído do capítulo 15 do livro Mensageiras da Ressurreição

                                           
                                              O ÓVULO DA MULHER



Até o ano de 1827, a Medicina não tinha conhecimento da existência do óvulo da mulher. Desconhecimento que foi responsável pela criação de mirabolantes teorias sobre o corpo feminino, por parte de filósofos, médicos, cientistas, literatos, enfim pela nata da intelectualidade de todos os tempos. Idéias como a de Aristóteles, filósofo grego, segundo a qual a mulher não contribuía no processo de reprodução com material produtivo para a formação do feto. Para ele, só o homem era a parte criativa e doadora de vida; ela era meramente uma nutridora biologicamente passiva. Aristóteles declarava o sexo feminino inferior, por natureza. Sua definição de mulher era a de homem incompleto, defeituoso. Considerava a mulher inferior tanto do ponto de vista físico como no caráter: "Devemos considerar o caráter da mulher como algo que sofre de certa deficiência natural."
Suas idéias influenciaram grandemente a Idade Média. Com relação à fictícia imperfeição do corpo feminino, as idéias aristotélicas influenciaram até mesmo os Reformadores. Haja vista, concordarem em ver a mulher apenas como uma nutridora biologicamente passiva.


Contudo, em fins do ano de 1600, portanto, antes da descoberta do óvulo feminino, o tema sobre a natureza física da mulher passou a ser alvo de acirradas discussões nos meios médicos da Renascença. Finalmente, as inteligências dos doutores desembotaram-se e eles chegaram à conclusão, de modo consensual, que a anatomia feminina era perfeitamente normal e distinta da anatomia masculina.
 Resolvida a questão, concordaram os luminares da inteligência científica que, na anatomia feminina, não havia carência alguma, e que a mulher não seria, então, como afirmava, também, Tomás de Aquino, "um homem incompleto, um ser ocasional;" idéia bem semelhante a de Aristóteles sobre o assunto.
Dentre os leigos, todavia, subsistiam dúvidas. Até bem pouco tempo, duvidava-se da capacidade intelectual e da robustez física da mulher, supondo-se que o seu cérebro seria inferior ao cérebro do homem.
Os efeitos da falta de conhecimento da fisiologia feminina, referentes ao processo reprodutivo, que se fizeram sentir até a segunda década do século 19, influenciaram negativamente o pensamento medieval e renascentista. Até os religiosos incidiram em erro ao tentar entender o papel da mulher para gerar um filho. Haja vista, a conclusão a que chegaram alguns Reformadores. Em recorrência às idéias aristotélicas, equacionou-se um problema de caráter teológico, proposto por Menno Simons, teólogo Reformado:

Desde que a mulher não contribui com "semente" alguma para formar o filho, a Virgem Maria não podia transmitir a natureza pecadora para o Jesus humano.

Essa teoria foi compartilhada por outros teólogos da Reforma, como Melchior Hoffman, John Lasco e Gellus Faber, entre os anos de 1544 a 1552. Em nossos dias, deparamo-nos com uma tese que poderíamos chamar de conjectura teológica, que busca resposta para o mesmo questionamento


dos antigos Reformadores, mas, que chega a uma conclusão instigante. Todavia, permanece em compasso de espera à procura de um autor, com autoridade teologicamente reconhecida, para endossá-la e aperfeiçoá-la: refere-se à pureza do óvulo da mulher.
O tema remete-nos ao livro de Gênesis 2 e 3, ao relato da Queda. As palavras de Deus, ao colocar o primeiro homem, Adão, no jardim do Éden, foram: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. (Gênesis 2: 16-17).
Portanto, a responsabilidade pela observância da Lei, emanada diretamente do Senhor, recaía, incondicionalmente, sobre Adão. Nisto concordam todos os eruditos cristãos. A desobediência a esse mandamento, primeiro por parte de Eva, tentada pela serpente, e depois por Adão, que resolveu dar ouvidos à mulher, ignorando a ordem divina, trouxe o pecado ao mundo, e pelo pecado, a morte. Contudo, o responsável, o que recebeu diretamente de Deus a advertência de que se descumprisse a ordem morreria, foi Adão. Após a Queda, ele ouve de Deus a terrível sentença: Maldita é a terra por causa de ti. (Gênesis 3.17).


Sucedeu que, pela semente contaminada de Adão, o pecado foi transmitido a toda a raça humana. A mulher, também, sofre as consequências do pecado, contudo, o seu óvulo teria se mantido imaculado, só vindo a contaminar-se ao entrar em contato com a semente do homem manchada pelo pecado. Não nos esqueçamos da ênfase com que a Bíblia insiste no fato de ter sido por intermédio de Adão que o pecado foi transmitido à humanidade: Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram (Romanos 5.12).
Pode-se compreender, assim, a necessidade de ter sido escolhida uma virgem - Maria - para receber o poder do Espírito Santo que gerou Jesus, sem pecado algum? Era em busca da resposta sobre a geração do Jesus humano, mas, sem a nódoa do pecado, que aqueles Reformadores andavam, ao aceitarem a teoria de que a mulher era apenas uma nutridora passiva no processo de reprodução. Eles colocavam a questão do seguinte modo: a Virgem Maria, apenas, recebendo a criança em seu ventre, gerada pelo poder do Espírito Santo, não a contaminaria com a mancha do pecado que, no passado, recaíra sobre a humanidade. A Bíblia ressalta que Jesus nasceu e nunca pecou, e estava livre do pecado, inclusive daquele que recai sobre todos nós descendentes de Adão.
Se aqueles religiosos soubessem da existência do óvulo da mulher, aceitariam a tese de sua pureza, uma vez que o grande culpado, responsável pela entrada do pecado no mundo foi o homem? Com a escolha de Maria, uma virgem, para ser mãe do Filho de Deus, conclui-se que o pecado não poderia ser transmitido pelo óvulo da mulher; porque, se estivesse contaminado, não seria possível gerar uma vida livre do jugo do pecado, como foi a de Jesus Cristo.
Entenda-se a questão, torno a salientar, como um exercício de conjectura teológica.

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