quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Trecho extraído do capítulo 8 (12) do livro Mensageiras da Ressurreição

                                   
                                    A IMAGINÁRIA BELEZA DE MADALENA


Alguém consegue imaginar Maria Madalena como uma mulher feia? Tudo indica que não. A idéia da mu­lher de incomparável beleza física tem povoado a men­te das pessoas há séculos. Contudo, essa idealização não possui nenhum respaldo bíblico. Não se encontra no Novo Testamento alusão alguma à sua beleza, de modo a confirmar tal conceito. Ao passo que, com outras per­sonagens femininas acontece o contrário, têm a beleza notada e elogiada, como é o caso de Sara e Raquel, no Antigo Testamento.
A beleza de Sara é destacada em Gênesis 13.11 e 14, (tradução de João Ferreira de Almeida) e confirma­da pelos acontecimentos dela decorrentes, pois, chegou a ser, como diríamos em linguagem de hoje, sequestrada e levada ao palácio do faraó. Contudo, foi salva por inter­venção divina e saiu ilesa desse episódio, (v.20). Segundo as palavras de Abraão, seu marido, ela era mulher for­mosa à vista. Devia ser dotada de uma beleza fora do co­mum, pois, foi exaltada pelos egípcios e admirada pelos príncipes diante do faraó, (v.15).
Raquel, mulher de Jacó, um dos patriarcas bíblicos, também é destaque em matéria de beleza, conforme Gê­nesis, 29.17b: Raquel era de formoso semblante e formo­sa à vista. Ao que parece, era do tipo que desperta amor à primeira vista, porque Jacó se dispôs a trabalhar sete anos sem salário, para tê-la como esposa; e, depois mais sete anos, por ter sido enganado pelo sogro, Labão, que lhe entre­gou a outra filha, Lia, em lugar de Raquel, descumprindo o prometido. Bastou a Jacó vê-la para amá-la. O primei­ro encontro deu-se à beira de um poço, quando Jacó bei­jou a Raquel, e levantou a sua voz, e chorou. (v.11).
Todavia, sobre Maria Madalena não se encontra indício algum de que fosse bela conforme cantada em prosa e verso na literatura, e representada no cinema contemporâneo. Inexiste qualquer informação no Novo Testamento que venha dar suporte à maneira como a imaginação popular e a arte fantasiam sua figura. Don­de surgiu essa idéia? Em parte, talvez, ao modo como os pintores da arte sacra, principalmente da Renascença, “retrataram-na”. Imagem bela, de longos e maravilhosos cabelos, fazendo o tipo mulher-sedução. Atente-se, po­rém, para o fato de o trabalho artístico ser fruto da ima­ginação do artista. Contemporaneamente, pode-se cre­ditar essa idéia aos cineastas e literatos. Pela criatividade dos tais Madalena é, infalivelmente, a mulher tentadora e de encantos irresistíveis. Nenhum deles teria coragem de arriscar a bilheteria de seus filmes ou o lucro de seus direitos autorais apresentando-a, por exemplo, parecida fisicamente com Madre Tereza de Calcutá.
Se analisarmos os textos bíblicos, devemos optar pelo oposto da idéia de beleza. Com referência aos sete espíritos que Jesus expulsou dela, segundo a mentalidade judaica, poderia significar que ela havia sido vítima de uma doença muito grave da qual não se conheciam nem as causas nem a cura.
No cristianismo, os demônios evocam uma relação com o pecado, sem descartar que têm também relação com as doenças. Lembremos que Jesus ao repreender a febre na sogra de Pedro, estava repreendendo um ser de­moníaco responsável pelo aparecimento daquele sinto­ma (Lucas 4.39).
Ao considerar os fatores saúde e beleza como indis­soluvelmente ligados, sabendo-se que a beleza do corpo depende necessariamente da saúde, assim é fácil imagi­nar a devastação que a doença deve ter causado ao fí­sico dessa mulher. Conquanto estejamos no terreno das conjecturas, acho mais difícil pensar em Maria Madalena como um paradigma da beleza física, do que vê-la desti­tuída da mesma, conforme advertem os teólogos:
“Maria de Mágdala podia ser uma mulher idosa e fisicamente insignificante, podia ter tido um marido ou te-lo ainda [...] Para a mentalidade religiosa do homem ocidental, porém, imaginá-la jovem, bonita e solteira era quase inevitável, porque essencial à sua função de símbo­lo: ela devia configurar-se como um objeto de desejo na forma mais típica.”
A verdadeira beleza atribuída a Madalena, seria en­contrada, indubitavelmente, em seu espírito. Esse sim, indescritivelmente belo, porque envolto pela luz que emana dos céus, através de Cristo. No entanto, esse as­pecto desperta pouco interesse. Ao que parece, a trans­formação, psicológica, física e espiritual - pela qual pas­sou e que foi radical é algo muito difícil de ser apreendida pela inteligência humana. Encontrada no fundo do poço, dominada por demônios, enferma, foi liberta por Jesus Cristo, e viu a luz brilhar em seu caminho com tal inten­sidade a ponto de fazer dela a emissária da ressurreição. Tal como ela, o gênero feminino cresceu em dignidade, respeitabilidade e obteve a autonomia espiritual. (Continua).


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