quarta-feira, 24 de abril de 2013

Trecho extraído do capítulo 3 do livro Mensageiras da Ressurreição


                                          MATANÇA DE MENINAS

 Nascer mulher em países como Índia e China ou nos Estados Árabes sempre foi no decorrer dos séculos perigoso ao extremo, assevera a escritora Rosalind Miles; denotando que a zona de perigo não permanecia circuns­crita a esses países, mas, estendia-se até Marrocos e Shan­gai. A autora afirma que, desde tempos remotos, até onde a História alcança, o infanticídio constituía uma práti­ca costumeira em toda a região. Verdadeira pandemia. Relata, ainda, que na China pré-revolucionária, durante milhares de anos, era costume colocar uma caixa de cin­zas ao lado da cama da parturiente, onde seria, imediata­mente, sufocada a recém-nascida.
Para os chineses, a mulher não possuía alma, é o que informam autores como Otto Weinninger. Segundo eles, as filhas eram objeto de desprezo por parte dos pais a ponto de omitirem os seus nomes quando menciona­vam o número de filhos que possuíam:
Os chineses negam, desde tempos imemoriais, que a mulher possua uma alma. Se perguntarem a um chinês quantos filhos tem, ele enumera apenas os filhos homens, ignorando as filhas.
Segundo tal conceito, não admira a naturalidade com que eram aceitos os assassinatos de recém-nascidas. Com base nesse modo de pensar, meninas seriam apenas animaizinhos - levando-se em conta que a alma, enten­dida aqui como racionalidade, é o que diferencia o ser humano dos animais irracionais.
                                          FALTAM MULHERES
Em decorrência desse hábito contumaz de assassinar as recém-nascidas, agora, faltam mulheres na China. E há estimativas indicando que, pelo ano de 2020, até sessenta milhões de chineses não encontrarão mulheres para casar-se. Hoje, a prostituição já alcança índices alarmantes.
E, na Índia, o costume de matar meninas assim que nasciam sempre existiu. Os métodos para exterminá-las variavam bastante. Eram estranguladas, envenenadas, atiradas ao mar, abandonadas na floresta ou dadas de co­mer aos tubarões como oferenda aos deuses. No contexto dessa sociedade idólatra, a vida de um ser humano – do sexo feminino – valia bem menos que a de um animal. Sem dúvida, reflexo da idolatria entranhada na alma do povo hindu, que adora animais como vaca e constrói templos para ratos.
Está mais do que em tempo de serem ouvidas, na Índia, na China e no Oriente Médio, as boas novas do Evangelho. A voz do que veio para apre­goar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano da bondade do SENHOR. Assim seja!
Ao analisar esses fatos que nos deixam pasmos, há de se perguntar: o que pode justificar o assassinato de crianças? Quanto mais ao tratar-se de genocídio? Per­gunta irrespondível! Porque até os animais têm direito à vida. Pode-se apresentar desculpas apenas, mas nada capaz de justificar esse crime contra a humanidade.
E a desculpa apresentada pelos pais homicidas era a do dote. Uma vez que a mulher não tinha qualquer fu­turo fora do casamento e da maternidade, o pai precisava dispor de dinheiro para pagar o dote ao noivo. Assim, os pais que não eram suficientemente ricos para dispor des­se dinheiro seriam levados à ruína para casar uma filha, e os que não casassem a filha ficariam expostos à desonra pública. Segundo esse modo de pensar amalucado, não havia saída senão assassinar as meninas ao nascer. Dote e desonra pública, qualquer coisa valia mais que a vida de uma criança do sexo feminino.
Rosalind Miles faz a seguinte apreciação sobre o que estaria por detrás da matança da fêmea recém-nasci­da, que acontece desde tempos imemoriais: Reproduzir sua própria espécie era, para a mulher, o mais cruel e vão dos seus trabalhos. As filhas eram mortas em campanha planejada e contínua, com o objetivo de reduzir o núme­ro de fêmeas do mundo. (Continua).

domingo, 7 de abril de 2013

Trecho extraído do capítulo 6 (4) do livro Mensageiras da Ressurreição


                        PRINCÍPIO DE DIREITO VERSUS MORAL CRISTÃ

 O princípio da submissão das mulheres aos mari­dos, conforme entendem alguns estudiosos – e entendida aqui como subalternidade - não se trata de um preceito da mo­ral cristã, mas, de um princípio de direito, comum nas sociedades judaica e greco-romana. Paulo respeitava-o, não afrontando as suas leis, quer as regulamentadas pelo direito, em seus termos legais, quer as ditadas pelos cos­tumes. Atitude, aliás, recomendada explicitamente, tam­bém, pelo apóstolo Pedro a todos os cristãos para não cor­rerem o risco de passar por malfeitores. (1 Pedro 2. 12-17). Pela observância às leis vigentes, dariam bom exemplo de vida a fim de que o Evangelho não fosse difamado.

O importante, então, nos textos de Efésios, bem como em Colossenses, que tratam do referido assunto, não é a submissão comumente tida como aviltante, que coloca a esposa em situação de inferioridade, mas, sim, segundo observam alguns estudiosos, a referência a seguir na frase bíblica: “Como convém no Senhor” (Colossenses 3.18). O Senhor no comando de todos os aspectos do relacio­namento conjugal; domínio não mais do direito, mas, aí sim, da ética cristã. Trata-se de mandamento divino; fala-se, então, do amor cristão, daquele amor marcado pelo dom de si mesmo – do amor ágape, semelhante ao amor de Cristo, em que a pessoa é capaz de doar sua vida para salvar outra.

Não seria correto confundir um princípio consue­tudinário e do direito, com um princípio fundamental da moral cristã, a fim de manter uma filha de Deus sujeita ao arbítrio de qualquer cidadão de maus bofes. Quando Paulo fala, não trata de uma questão de hierarquização grosseira, tal como o marido manda e a mulher obede­ce. Atitude bem conforme ao gosto da mentalidade ma­chista e da interpretação que os cronistas mundanos dão às palavras de Paulo registradas nos Evangelhos. A ju­risprudência e os costumes das sociedades de antanho ratificavam a discriminação contra a mulher. Hoje, in­corre em erro, quem leva essas palavras ao pé da letra – reconhecendo o seu emprego em qualquer tipo de casamento. O Senhor não endossa a escravização da mu­lher pelo marido. Cristianismo é sinônimo de liberda­de. A mulher deve submeter-se à autoridade do marido verdadeiramente cristão, porque dentro da moral cristã a relação marido-mulher toma outra forma, por ser es­truturada no amor. Certamente, um sentimento diverso e mais grandioso do que aquele puramente romântico e carnal.

Trata-se, portanto, de outro texto bíblico, o da sub­missão da esposa, interpretado de maneira falaz, para apoiar a tirania contra a mulher, a subserviência e o ser­vilismo dentro de casa e na sociedade. Muitos maridos, os mais simples e desavisados chegam a encarar a esposa como uma serviçal, no sentido literal da palavra. Res­ponsabilidade, injustamente, atribuída, ao apóstolo Pau­lo quanto às consequências nefastas que tal interpretação tem trazido ao fraudar os direitos das mulheres cristãs.

Todavia, responsáveis por esses enganos são as interpretações literais das cartas paulinas, que só bene­ficiam os próprios homens. Para eles é conveniente es­corar-se sob a proteção da mentalidade patriarcal para auferir vantagens e comodidades que esse modo de pen­sar lhes faculta. Nunca é demais lembrar que patriarcado tem sido sinônimo de despotismo contra as mulheres.

No momento em que Cristo enviou as mulheres para dar a notícia de sua Ressurreição, não consta que Ele as tenha mandado primeiro pedir autorização aos maridos, pais ou responsáveis, para cumprirem a missão. Independência e autonomia feminina ficaram claramen­te demonstradas nessa ocasião. Fato que nos leva a con­cluir que até mesmo acatando a autoridade do marido, a autonomia espiritual da esposa cristã, deve ser colocada em primeiro lugar. Convém, observar, também, que paz e li­berdade devem permear o relacionamento entre marido e mulher, no lar genuinamente cristão.

Em síntese, o amor cristão propõe a questão da se­guinte maneira: o respeito e o amor que a mulher deve ao marido são proporcionais aos que o marido deve à esposa. Será impossível a uma esposa que compreende a orientação bíblica – “sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor” - deixar de reverenciá-lo. A palavra submis­são, neste caso, toma um sentido de reconhecimento, res­peito e amor. Nada a ver, portanto, com o significado que adquiriu no nível mundano, que é de subalternidade: a mulher colocada em segundo plano, inferior ao homem como um ser de segunda classe. A igualdade entre as pessoas está no cerne do cris­tianismo: “Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como transgressores.”(Tiago 2.9). (Continua).