domingo, 17 de março de 2013


                                        DISCIPULADO FEMININO

 Propagou-se a ideia de que os discípulos de Jesus seriam apenas aqueles que pertenceram ao grupo dos Doze, os primeiros escolhidos para acompanhá-lO em seu ministério terreno. Segundo tal ideia, somente eles seriam dignos desse nome e, como tal, poderiam ser con­siderados. Porém, seguir esse ponto de vista é passar ao largo do grupo dos setenta e dois (Lucas 10 - NVI), do grupo dos cento e vinte (Atos 1.14,15) e de um exérci­to incontável de discípulos que seguiram, seguem e se­guirão a Cristo até a consumação dos séculos. Inclusive Paulo e Barnabé, considerados discípulos, incontestavel­mente, ainda que não houvessem pertencido ao grupo dos doze, conforme se lê claramente em Atos 14.14.

Seria, também, deixar de lado discípulos secretos de Jesus, como José de Arimatéia, que foi a Pilatos pedir o corpo do Senhor para colocá-lo no sepulcro: E vinda já a tarde, chegou um homem rico de Arimatéia, por nome José, que também era discípulo de Jesus. (Mateus 27.57). O evangelho de João faz idêntica referência a José de Ari­matéia, acrescentando O que era discípulo de Jesus, mas oculto, por medo dos judeus. (19.38a).

Aqueles dois discípulos a caminho de Emaús, re­feridos no evangelho de Lucas (24.13) também, vêm confirmar a realidade sobre o número dos que eram cha­mados de discípulos do Senhor, que excedia em muito o grupo dos Doze. Um dos dois, cujos nomes não são mencionados pelos evangelistas, costuma ser identifica­do como sendo Cléofas, de vez que sua ligação com os Onze era notável.

A prudência e o bom senso aconselham, antes de precipitar-se nesse tipo de conclusão, esclarecer o con­ceito abarcado pela palavra discípulo ou apóstolo no contexto bíblico. Conforme ensina a Teologia:

Segundo Paulo, a qualidade de apóstolo não se li­mita aos Doze. São apóstolos todos os que foram teste­munhas oculares da ressurreição e que foram designados pelo Senhor ressuscitado para o trabalho missionário (1Coríntios 9).47

A palavra apóstolo, em seu sentido original, signifi­cava mensageiro a quem era delegada uma determinada tarefa. Nas cartas de Paulo, o seu significado é especifica­do, e designa um mensageiro enviado pelo Ressuscitado.

Na medida em que nem todo apóstolo era membro dos Doze, o termo “apóstolo” parece haver conotado ori­ginalmente um círculo independente e mais compreen­sivo de liderança na igreja primitiva.

Pode-se identificá-lo como uma espécie de alicerce sobre o qual a história da Igreja desenrola-se. Com efei­to, a referência aos Doze, encontrada em Mateus 19.28 e Apocalipse 21.14, poderia corroborar a idéia de que se trata somente daquele grupo que, no início, fora esco­lhido por Jesus. Contudo, uma leitura mais atenta des­ses textos mostra referir-se, não só a um grupo de doze homens, mas à função que teriam todos os discípulos de Jesus, para Israel, no futuro escatológico.

Observemos a mencionada citação de Mateus: E Jesus disse-lhes: Em verdade vos digo que vós, que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. É importante esclarecer que, no tempo de Jesus, das doze tribos de Israel somente restavam duas e meia, donde se deduz que o número doze é claramente simbólico. As­sim, a venerável expressão Doze Apóstolos tem, apenas, um significado escatológico e simbólico.

Na citada menção de Apocalipse - E o muro da ci­dade tinha doze fundamentos, e neles os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro – “não se diz que os Doze são o fundamento da Igreja, mas, sim, da Nova Jerusalém, o que é claramente uma realidade escatológica”.

Não se trata de Israel, com referência à sua cons­tituição histórica, mas, de seu futuro escatológico - da Santa Cidade [...], que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido... - segundo a visão do apóstolo João, registrada em Apocalipse 21.2. (Continua).

Nenhum comentário:

Postar um comentário