sábado, 30 de junho de 2012

Trecho extraído do capítulo 8 (3) do livro Mensageiras da Ressurrerição


    JÚNIA NA PRISÃO COM ANDRÔNICO E PAULO

                                                                                                                  

O texto de Romanos 16, continua fornecendo preciosos detalhes sobre a trajetória feminina na primeira Igreja cristã. No versículo 7, Paulo refere-se a um casal, Andrônico e Júnia que, segundo alguns teólogos, possivelmente, teriam integrado o grupo dos Setenta e Dois discípulos de Jesus. Ao falar sobre eles, declara: Os quais se distinguiram entre os apóstolos e que me precederam na fé em Cristo (v.7b). Anteriores, portanto, à época da ekklesia, conviveram com Jesus e, depois, foram contados na comunidade dos apóstolos entre os quais se notabilizaram.
Eram parentes de Paulo, e sofreram com ele as agruras do cárcere, como ele mesmo informa. Júnia ficou conhecida como a apóstola notável juntamente com Andrônico. A Bíblia não dá maiores detalhes sobre a vida dos dois, mas, tudo leva a crer que eram marido e mulher, tal como Priscila e Áquila.
O fato de Paulo chamar uma mulher de apóstola e, ainda mais de notável, eriçou os brios varonis de alguns eruditos machistas. Dentre os contemporâneos principalmente, mas alguns do passado também empacaram diante desse fato. Não conseguindo aceitá-lo, resolveram pôr em dúvida o gênero do nome Júnia. Alguns quiseram provar que Júnia era nome de homem, como tentou fazê-lo um escritor que viveu entre os séculos treze e catorze, conhecido como Egídio de Roma. Foi em sua narrativa que pesquisadores atuais foram desencravar essa história mal contada. Porém, nem aquele nem estes são levados muito a sério, tampouco apresentaram argumentos convincentes para sustentar essa versão do caso.
A questão, exumada por alguns antifeministas "modernos" e inconformados, já perdeu a sua efervescência e os pesquisadores, em sua maioria, tendem a concordar que Júnia é mesmo nome feminino. Destacam, também, que Júnia e seu marido Andrônico, foram pessoas dignas das palavras com que Paulo os classifica, isto é, de notáveis entre os apóstolos.
Stanley Grenz, observa: Em contraste ao tempestuoso debate contemporâneo, o gênero de Júnia não era um problema na era patrística (dos pais da igreja). E, acrescenta: Alguns eruditos contemporâneos afirmam que, antes do século treze, quase todos os comentaristas deste texto consideravam Júnia mulher.
 No âmago da questão, reconheçamos, encontra-se a vontade de provar que não houve mulher alguma que tivesse sido discípula de Cristo e de negar que alguma delas pudesse ter-se notabilizado como tal. Nas entrelinhas dessa controvérsia caduca, arde o desejo daqueles que querem tirar da mulher o lugar que lhe pertence por direito na História do cristianismo . A intenção, porém, é clara, trata-se de impedi-la de ocupar o seu espaço como mensageira das Boas- Novas, nos dias de hoje.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Trecho extraído do capítulo 10 do livro Mensageiras da Ressurreição

         

                                 LÍDIA, AS PRIMÍCIAS DA EUROPA

A primeira pessoa a aceitar o evangelho na Europa, pelo ministério de Paulo, foi Lídia. Para o apóstolo, a missão iniciada na Macedônia significou o primeiro passo dado em direção à evangelização do continente europeu. A conversão de Lídia ocorreu na cidade macedônica de Filipos. Ela era natural de Tiatira, na Lídia. Daí, talvez, a origem de seu nome, de vez que os nomes étnicos eram comuns, poderia ser conhecida como a mulher lídia. Mas, esse era, também, um nome pessoal.
Aconteceu, num sábado, a sua oportunidade de ouvir, pela primeira vez, a mensagem do Evangelho. Por não haver encontrado uma sinagoga para dar início ao seu trabalho, como habitualmente fazia, Paulo e os outros apóstolos procuraram por uma espécie de sinagoga ao ar livre, na Via Egnatia, à beira do rio Gangites (atualmente, Agista).
Ao sair pelas portas da cidade, eles dirigiram-se às margens do rio. Ao assentarem-se ali, muitas mulheres reuniram-se para ouvi-los, dentre elas encontrava-se Lídia. E o livro de Atos (16.14b) relata que O Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia.
Lídia pertencera ao judaísmo, era temente a Deus e esperava a vinda do Messias prometido. Por meio da Palavra ministrada por Paulo veio a crer que Jesus Cristo era o Messias.
Naquela mesma ocasião, atendendo ao chamado do Senhor, converteu-se, vindo a ser batizada, juntamente com toda a sua família (Atos 16.15). Em seguida, ofereceu hospitalidade a Paulo, Silas e Lucas. Mais tarde, quando Paulo e Silas saíram da prisão, foi na casa dela que se refugiaram antes de continuarem a viagem missionária. (v.40).
No momento em que se encontrara com Paulo e os outros discípulos, Lídia estava praticando os costumes de sua antiga religião judaica, orações e abluções perto do rio, mas, naquele sábado, estava marcado o seu encontro com Jesus, por quem ela esperava – Cristo, o Salvador do mundo.

domingo, 17 de junho de 2012

Sumário do livro Mensageiras da Ressurreição

Sumário

Introdução.......................................................................... 11

1. O início da caminhada.................................................. 23

2. A revolução do amor..................................................... 31

3. Fé e liberdade................................................................. 39

4. Feminismo sem rancor................................................. 53

5.Gênesis apoia a subordinação da mulher?.................. 61

6. Doutrinas criadas sobre palavras de Paulo

1. A questão do traje e do véu ............................................. 67

2. A mulher esteja calada ..................................................... 75

3. A proibição de ensinar ..................................................... 85

4. A questão da autoridade do marido................................ 91

5. O homem, a cabeça da mulher........................................ 101

7. Discipulado Feminino................................................ 107

8. Atos das apóstolas

1. A mensageira da Carta aos Romanos............................ 115

2. A mulher que arriscou a vida por Paulo....................... 123

3. Júnia na prisão com Andrônico e Paulo........................ 129

4. Missionárias independentes............................................ 133

5. Cooperadoras cujos nomes estão no Livro da Vida........ 135

6. A discípula que ressuscitou............................................. 137

7. Patronas e as igrejas domésticas..................................... 141

8. Mártires cristãs................................................................. 145

9. As mulheres que profetizavam....................................... 151

10. Lídia, as primícias da Europa....................................... 155

11. Marta e Maria................................................................. 159

12. Maria Madalena, apóstola dos apóstolos..................... 163

9. Maria, a mãe de Jesus.................................................. 175

10. Profetisas do Antigo Testamento............................. 187

11. A Ressurreição........................................................... 193

1. O significado da Ressurreição....................................... 193

12. Teologias da Redenção – um convite à reflexão

1. Teologia do Mistério Pascal......................................... 199

2. Teologia Jurídica............................................................ 204

3. Teologia Substitutiva..................................................... 205

13. O silêncio sobre a história da mulher...................... 217

14. Sexismo que culminou em genocídio..................... 223

15. O óvulo da mulher..................................................... 229

16. Séculos de retrocesso................................................ 235

17. Eu vos saúdo!............................................................. 243

18. As mulheres e o cargo de Pastora............................. 249

19. Conclusão................................................................... 255

Bibliografia....................................................................... 259




quinta-feira, 7 de junho de 2012

Trecho extraído do capítulo 12 do livro Mensageiras da Ressurreição




                                     AS TRÊS MULHERES


Atribui-se a idéia de pecadora, que se apegou ao nome de Maria Madalena, à confusão que popularmente se faz a respeito de três mulheres, citadas no Novo Testamento. Primeiramente, por confundi-la com a pecadora (anônima), mencionada no livro de Lucas (7.36-50); por analogia à protagonista do episódio, tida pelo povo como a própria Madalena, foi fácil acrescentar ao seu nome o apelido "Arrependida". Prova cabal de que, na mentalidade popular, seu nome tornou-se, sem qualquer base bíblica, sinônimo de pecadora – arrependida.
O texto bíblico faz menção de uma mulher realmente tachada de pecadora, que ungiu os pés de Jesus na casa do fariseu chamado Simão.

Esse homem escandalizou-se com a cena, pensando que Jesus não a tivesse reconhecido como tal e, por isso, até duvidando que Jesus fosse mesmo um profeta. Mas, o Salvador, que é mais que um profeta, tinha conhecimento disso e, também, do que o fariseu estava pensando.
Os versículos 37 e 38, descrevem-na literalmente como pecadora: E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que Ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhes os pés, e ungia-lhos com o unguento.
Apesar de ter recebido o cognome de pecadora, a mulher cujo nome não é mencionado no Evangelho, seria realmente uma meretriz? Será que as palavras pecadora, meretriz ou prostituta, no caso, poderiam ser tomadas como sinônimos? Sobre o assunto, a escritora Lilia Sebastiani pondera de modo oportuno que, se um homem tivesse se aproximado de Jesus, naquele dia, na casa do fariseu, para pedir-lhe o perdão dos seus pecados – um pecador portanto – ninguém seria levado a pensar exclusivamente em faltas de natureza sexual.

 Seria, realmente, inconcebível. Quem ousaria imaginá-lo envolvido com prostituição?
Na esteira desse raciocínio, a pesquisadora analisando os elementos que compõem a cena e observa:
É muito mais antiga do que o cristianismo a associação mental espontânea mulher-sexo-pecado. Ali se encontravam dois elementos, mulher e pecado, em um clima de acentuada e perturbadora feminilidade. É totalmente instintivo para uma cultura patriarcal identificar a mulher com o sexo e, portanto, a pecadora se torna logo uma prostituta, a mulher "ocasião de pecado" por excelência.

Não obstante, ao confundir Madalena com aquela pecadora, e deduzir ser ela (Madalena - ou ambas) meretriz, pode ocorrer de um mito estar alicerçado sobre outro mito. A malícia humana, como a história de Madalena nos mostra, optou pelo pior. Assim como a escolha de Barrabás (Mateus 27.11-31), o qual se livrou da morte, em lugar de Jesus, por escolha do povo, é apenas mais um dentre tantos exemplos bíblicos e históricos da opção humana pelo mal. De igual modo, quanto àquela "pecadora", não há provas de que o seu pecado fosse o da prostituição; nem que Maria de Mágdala fosse meretriz.


A outra, das três mulheres era Maria de Betânia -  irmã de Marta e de Lázaro, ressuscitado por Jesus. Ela é identificada como a outra mulher que, também, ungiu, os pés de Jesus. Todavia, seu gesto teve finalidade diferente, que não a do perdão dos próprios pecados, esclarecida no evangelho de João (12. 1-11). Reconhecida como Maria de Betânia, no texto joanino, nos outros evangelhos seu nome não é mencionado, mas, apenas narrado o acontecimento do qual participou. Ocasião que serviu para demonstrar que ela tinha presciência da morte próxima de Jesus. Inferência obtida pela resposta dada por Jesus, quando Judas Iscariotes na ocasião, reclamou que se poderia vender o unguento, que era de altíssimo preço,

para dar o dinheiro aos pobres. Disse, pois, Jesus: Deixai-a, para o dia da minha sepultura guardou isto (v.7). Surpreendente a atitude dessa discípula, aprestando-se a ungir Jesus, por pressentir a proximidade de Sua morte, era um assunto a respeito do qual os outros discípulos pareciam não ter uma noção clara.

A outra das três mulheres, a verdadeira mensageira de ressurreição – Maria Madalena - foi quem, na mente popular, e até mesmo em alguns ambientes eclesiais, teve seu nome fundido com o das outras duas. Ela que, na realidade, veio a ser chamada apóstola dos apóstolos. Uma parte da responsabilidade pela fusão dos três nomes em uma só pessoa cabe, também, ao fato de que, durante séculos, o povo não teve acesso direto à leitura da Bíblia. Até as primeiras quatro ou cinco décadas do século vinte, no Brasil, eram muito raras as edições das Escrituras em português, e o seu preço, muito alto. No resto do mundo não era muito diferente, à exceção dos Estados Unidos e de alguns países cristãos da Europa, posto que a imprensa não havia alcançado o alto grau de desenvolvimento que hoje possui e que fez com que o preço dos livros se tornasse mais acessível à população em geral. O analfabetismo era outro obstáculo para o conhecimento da Palavra. Outrossim, não se pode esquecer que, na Igreja Católica, a leitura direta da Bíblia era vetada ao povo, o qual, segundo os religiosos, seria incapaz de entendê-la.