domingo, 30 de julho de 2017

TRECHOS DO LIVRO MENSAGEIRAS DA RESSURREIÇÃO

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Memorial da Discriminação:
A mulher, deve-se admitir, não possui em alto grau
o senso de justiça; o sentimento de equidade, na verdade,
decorre de uma elaboração de vontade e indica as condições
nas quais é permitido que esta vontade se exerça.
Dizemos que as mulheres têm menos interesses sociais
do que os homens e que nelas a faculdade de sublimar os
instintos fica mais fraca.
Sigmund Freud, La Féminilité, 1932.
Memorial da Discriminação
 Ao invés de viverem modestas, pobres, retraídas,
ruborizadas no santo abrigo do gineceu, elas se misturam
aos homens, como fêmeas de garupa arrepiada e com as
ventas fumegantes dos apelos de uma volúpia grosseira.
Ingratas diante de Deus que as fez belas, e cegas sobre seu
poder, elas preferem a fama de escrever ao bem substancial
de serem somente amadas.
Jules Barbey d’ Aurevilly, Lês Bas-bleus,1878).

terça-feira, 25 de abril de 2017

                                                         FÉ E LIBERDADE
Sabemos que Jesus demonstrou das mais diversas formas a Sua misericórdia e o Seu amor para com to­das as mulheres que cruzaram o Seu caminho. Mas, Seu exemplo e Suas palavras não encontraram eco no cora­ção dos homens. Eles não conseguiram assimilar a men­sagem, nem entender os sinais. Assim, a mulher conti­nuou amada por Deus e execrada pelo mundo.
Dentre os muitos exemplos registrados no Novo Testamento sobre a ação benevolente de Jesus para com o humilhado e ofendido gênero feminino, além dos já cita­dos, está o da mulher cananeia, (Mateus 15. 21-28) uma estrangeira que, como tal, não era muito bem-vista pelos judeus. Ela buscou o Mestre para pedir a cura da filha en­demoninhada, apesar de os apóstolos terem sugerido que Jesus a mandasse embora, porque vinha gritando atrás deles na rua. Não obstante, Jesus atendeu-a, apesar de ser estrangeira, e o foco de sua missão ser Israel e ter dito: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Is­rael. (v .24b); satisfez o pedido dela, depois de ter testado a sua fé, quando ela clamou: Senhor, socorre-me (v.25). Ele, então, respondeu-lhe: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. Ao que ela replicou: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. (v.26-27). Diante dessa confissão, Jesus acrescenta: Ó, mulher! Grande é a tua fé: seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã. (v.28).
Tanto no presente caso, como no episódio da mu­lher hemorrágica, em que mulheres afrontaram os costu­mes e as leis do patriarcado social e eclesiástico, o saldo foi positivo. Responsável por essa vitória, o mover da fé sobrenatural em Cristo ocultava-se sob a aparência de re­beldia, por parte delas. Santa sublevação, pois encontrava eco no coração de Jesus. A Sua palavra nos incentiva a não nos conformar com este mundo, mas, a transformar-nos, renovando a nossa mente, a fim de discernirmos a vontade de Deus. E a fé, certamente, está entre o que é perfeito, bom e agradável a Ele. (Romanos 12.1-2); bem como a liberdade cristã, defendida ardentemente pelo apóstolo Paulo, em seguimento à vontade do Mestre: Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo. Tais como: não toques, não proves, não manuseies? (Colossenses 2.20,21). Se aquelas duas mulheres, a cananéia e a que sofria de hemorragia, se conformassem com os costumes e a religiosidade de seu tempo, certamente, teriam vivido derrotadas. No ní­vel do espírito, as palavras de ordem são: fé e liberdade.
Ao pensar em liberdade, são bem lembradas e opor­tunas as palavras de João Calvino, teólogo e um dos Refor­madores do século 16, quando tratou da liberdade cristã, em um sentido amplo, ou seja, para toda a humanidade:
Cristo, o libertador, libertou a humanidade caída na escravidão do pecado e na escravidão das Instituições humanas tirânicas que usurparam a soberania de Deus. Para Calvino, a liberdade cristã se realiza dentro da hu­manidade restaurada como sinal da presença do reino de Cristo já, no meio de um mundo caído.
Pode parecer estranho citar Calvino neste livro que pugna pela autonomia do gênero feminino, uma vez que ele não se alinha entre os defensores do feminismo. Paradoxalmente, porém, suas idéias dão grande ênfase à liberdade cristã. Nesse sentido, vale a pena encarar o paradoxo e, de posse dos seus conceitos emitidos na fra­se acima, olharmos para o outro lado do mundo, para o Oriente Médio e diversos países asiáticos, onde o impé­rio das leis criadas por “instituições humanas tirânicas” se mostra em plena efervescência ainda hoje. Convenha­mos que, se há um universo onde a soberania de Deus foi ensombreada por leis humanas perversas e tirânicas esse universo é o das mulheres muçulmanas, chinesas e in­dianas só para citar alguns exemplos. Nada muda há in­termináveis séculos para esses povos. Nenhuma abertura se faz na legislação que permita às mulheres respirar um pouco do ar puro da liberdade, à qual todo ser humano tem direito.
Na evidência das palavras e atitudes de Jesus Cristo, livrando do sofrimento e da opressão as mulheres que foram ao Seu encontro ou cruzaram Seu caminho, firma­mos nossa certeza de que a vitória de todos os movimen­tos em prol da emancipação feminina, derivam daquele primeiro impulso libertador por parte Daquele que veio em nome do Senhor. Como contraprova dessa realidade podemos observar a condição de escravização em que se encontram as mulheres nos países não alcançados pelo cristianismo, até hoje, cuja pequena mostra vem a seguir. (continua).

domingo, 26 de fevereiro de 2017

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                  OS SÉCULOS DE RETROCESSO DA IGREJA

Aquela tendência de pensar a excelência do que é moderno em detrimento do que é antigo mostra-se inconsistente no que concerne à história da mulher na Igreja. O Novo Testamento, a arte cristã, as mais diversas fontes históricas e, até mesmo, os escritos apócrifos ates­tam que o lugar ocupado por ela, ao lado de Jesus, e nos primórdios do cristianismo, era tão importante quan­to o do homem. Ela desempenhou as mesmas funções que o homem no quesito liderança, ensino e nas demais funções do serviço cristão – como já vimos enfatizando, com base nos estudos realizados por grandes teólogos, durante todo este trabalho.
Na arte cristã do primeiro e do segundo século, po­de-se apreciar o desempenho das mulheres nas mais va­riadas atividades ministeriais. Aparecem administrando a Ceia do Senhor, ensinando, batizando, assistindo aos necessitados e liderando as orações públicas.
Hoje, contabilizamos séculos de apatia. À medi­da que a Igreja foi-se estabelecendo como instituição religiosa e o fervor espiritual decrescendo, a organiza­ção eclesial substituiu a simplicidade daquele primeiro e poderoso avivamento da primeira congregação cris­tã. A hierarquização trouxe a separação entre irmãos e irmãs, em lugar do primeiro amor - aquele sentimento poderoso que marca o início da nossa caminhada com Cristo. Sentimento que estava faltando, também, à igreja de Éfeso em certa época de sua história. Tema que sus­citou a advertência do apóstolo João, a mando de Jesus Cristo, na primeira das cartas dirigidas às Sete Igrejas da Ásia: Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primei­ro amor. Lembra-te pois donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arre­penderes .(Apocalipse 2. 4, 5). Os homens tomaram para si os papéis de liderança, e às mulheres restaram atribui­ções secundárias. Aos poucos, elas foram silenciando e durante séculos a Igreja deixou de ouvir a sua voz.
Mesmo com a Reforma protestante, não ocorreram mudanças significativas no modelo patriarcal-clerical da Igreja. A grande mudança operou-se, evidentemente, no que se refere à fidelidade à palavra de Deus; haja vista, a famosa exortação de Lutero: Sola Scriptura. Excepcio­nalmente, porém, uma mudança significativa sobressai, referente à organização da Igreja. Trata-se da substitui­ção do celibato pela família patriarcal-clerical. A referida mudança criou um cargo para a mulher - o de esposa de Pastor. Por intermédio desse cargo, surgiu a oportunida­de de prestar maiores serviços no âmbito da Igreja, na área de ensino e, de maneira meio escamoteada, da pre­gação da Palavra, sem que disso se fizesse muito alarde. A mudança, porém, atingiu umas poucas senhoras frente a uma multidão de mulheres silenciosas e excluídas dos trabalhos cristãos de liderança, chamadas apenas para trabalhos de menor responsabilidade.
Outra exceção verificou-se a partir do século 19, ocorrida entre os Metodistas e os Cristãos da Bíblia, e configurou-se numa grande abertura – ou reabertura – quando são admitidas pregadoras e realizam-se eleições para episcopisas, cargo equivalente ao de bispo. Mulhe­res, então, passam a integrar a cúpula da organização eclesial metodista. Exceção que serviu para confirmar a regra da involução das outras denominações, (em com­paração com o trabalho dos primeiros cristãos) no que diz respeito à apatia que tomou conta da Igreja ao relegar a atividade feminina a segundo plano.
No Brasil, do século 20, com o surgimento das Igre­jas Neo-Pentecostais, a mulher passou a deixar o seu si­lêncio milenar. Hoje, já se tem notícia de mulheres exer­cendo cargo de Pastoras, livres de quaisquer empecilhos, e atuando nos demais setores da Igreja, graças a Deus! Esse fato parece confirmar o pensamento da escritora Maria L. Boccia, ao detectar um padrão comportamental na História da Igreja, que opera da seguinte maneira:
Quando a liderança envolvia a escolha carismática de líderes, da parte de Deus, mediante a dádiva do Espí­rito Santo, as mulheres foram incluídas. Com o passar do tempo, a liderança é institucionalizada, a cultura patriarcal secular se infiltra na Igreja e as mulheres são excluídas.
Diante de um reavivamento espiritual, característi­ca marcante do movimento pentecostal, sob a direção do Espírito Santo, é natural que ocorra, especialmente, o que foi preconizado em Gálatas 3.28. Isto é, graças à unidade dos crentes em Cristo, são quebradas as barreiras que se­param as pessoas, especialmente por questão de gênero.
Durante os séculos de retrocesso da Igreja - em comparação com o fervor que avivava o primitivo movi­mento cristão, e ao expressivo desempenho feminino de então - o silêncio da mulher brasileira, em maior grau do que a das suas irmãs de outros países do Primeiro Mun­do, raramente viu-se quebrado. Vimos, porém, missio­nárias de outros países virem trabalhar na evangelização e ensino da Palavra em solo brasileiro; e, ainda que com sotaque estrangeiro, vozes femininas eram ouvidas den­tro da jovem Igreja do Brasil. Agora, os tempos são ou­tros, a apatia vai ficando para trás, e temos consciência de que vivemos, realmente, na era da Graça, sob a égide do Espírito Santo. A mulher brasileira começa a aquecer a voz, por tanto tempo silenciada, a fim de proclamar a mensagem da cruz. Deus seja louvado!
No entanto, o debate sobre o assunto continua vivo nas congregações do país, em contraste com a aquiescên­cia há muito obtida na grande maioria das Igrejas evangé­licas da Europa e dos Estados Unidos. Segundo Duncan Reily, essas instituições religiosas já responderam “sim” às questões: “Pode a mulher legitimamente ser ordenada sacerdotisa? Pode, portanto, a mulher licitamente minis­trar a Eucaristia?” As respostas afirmativas – há mui­to respondidas - contrastam, apenas, com a negativa da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa, totalmente contrárias ao ministério ordenado da mulher.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Texto extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

O TEXTO MAIS EXPLOSIVO DO NOVO TESTAMENTO


Antes de comentar o referido texto - de Gálatas 3.26- 28 - já mencionado no primeiro capítulo deste livro - con­vém observar a definição que os dicionários dão à palavra machismo: Atitude ou comportamento de quem não acei­ta a igualdade de direitos para o homem e a mulher.
Essa definição - cotejada com o objetivo ardua­mente buscado pelo apóstolo Paulo, isto é, o da unidade dos crentes em Cristo, por se tratar de um mandamento fundamental do cristianismo, coloca-nos diante de um impasse. Impossível, alguém que não reconhece direitos iguais para homens e mulheres, escrever o texto social­mente mais explosivo do Novo Testamento, justamente para defender esses direitos, exatamente como Paulo faz, na carta aos Gálatas: Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. Ele encerra o pen­samento com chave de ouro declarando: E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa. (v. 29). Prova cabal de que as mu­lheres e as pessoas marginalizadas dentro da sociedade, não foram deserdadas pelo Pai, mas, adotadas em Cristo como verdadeiras filhas de Deus, independente de status social – basta crer em Jesus Cristo e aceitá-lo como seu Senhor e Salvador. Esse texto serve, também, para livrar o apóstolo Paulo da pecha de machista.
A frase, do versículo 29, remete-nos a outro após­tolo, a Pedro, o qual observa que homens e mulheres são co-herdeiros da graça da vida, (1 Pedro 3.7). Graça sob a qual desponta a nova nação das pessoas recriadas em Cristo, em meio à qual são quebradas as barreiras que as separavam por questões de raça, classe social ou gênero.
Dentre os motivos que deram a Paulo fama de ma­chista encontram-se algumas de suas bem conhecidas – porém, mal interpretadas - recomendações às mulhe­res, sobre as quais já falamos anteriormente. Ao tomar conhecimento dessas recomendações, com isenção de ânimo, conclui-se que costumam ser lidas sem levar em conta o contexto social e a situação da Igreja no momen­to em que foram escritas, conforme asseveram os estudiosos cristãos adeptos do igualitarismo entre homens e mulheres dentro da igreja.
Passemos a apreciar, agora, nos textos bíblicos, como foi a atuação da mulher nos primórdios da Igreja. A constatação dessa realidade, por si só, contribui para amenizar, e até apagar, a fama que se apegou ao nome de Paulo, de inibidor da ação das mulheres no plano ecle­sial. Ao mesmo tempo, em que nos faz aquilatar o valor do ministério das primeiras mulheres cristãs. O caso de Febe, que dá início a este capítulo, é exemplar.
Voltemos, pois, à carta aos Romanos, cujo capítulo 16 inicia com as palavras de recomendação de Paulo, a res­peito de uma mulher chamada Febe, da igreja de Cencréia, porto de Corinto, aos cuidados da Igreja romana: Para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem aju­dado a muitos, como também a mim mesmo (v.2).
Febe foi encarregada por Paulo de ser a portado­ra da Carta aos Romanos, (que grande tarefa confiada a uma mulher, a responsabilidade de fazer chegar ao seu destino esse documento de valor inestimável para a cris­tandade). Ela era diácona da igreja de Cencréia e, tanto o cargo que ocupava na Igreja quanto a missão que lhe fora confiada provam cabalmente sua idoneidade moral e prudência, mas, acima de tudo, sua condição de após­tola. Observemos o sentido original da palavra apóstolo: mensageiro a quem era delegada uma determinada ta­refa. No caso de Febe, mensageira também no sentido literal da palavra.
A escolha de uma mulher, por parte de Paulo, para o desempenho de tarefa de tamanha importância vem para provar dois fatos favoráveis a ambos: com rela­ção a Febe, vem provar que era fiel e destacada serva do Senhor; da parte de Paulo que ele não fazia acepção de pessoas e apoiava indiscriminadamente o trabalho das apóstolas. A epístola aos Romanos é considerada a mais preciosa dentre as cartas escritas por Paulo. 


domingo, 15 de janeiro de 2017

                                   A QUESTÃO DO TRAJE E DO VÉU
Paulo, juntamente com os demais apóstolos, man­tinham-se vigilantes quanto à boa fama da igreja, que era incansavelmente perseguida pelos judeus e olhada de viés pelos pagãos. Para não dar motivos a escândalos, de­terminou que as mulheres mantivessem o uso do véu ou xale na cabeça. Não obstante rejeitar os costumes judái­cos, conservou essa prática observada, também, nas si­nagogas, local onde as mulheres só podiam permanecer com a cabeça coberta por véu, eram proibidas de falar e ficavam numa outra ala, separadas dos homens.
O apóstolo Paulo porfiava por fazer entender aos cristãos, provindos do judaísmo, que não estavam mais sob o jugo da Lei, motivo pelo qual era necessário que se livrassem dos antigos hábitos e costumes. Contudo, no caso da mulher, o véu ou xale – cobertura de cabeça – subsistiu. Sua finalidade, porém, excedia o manter tra­dição ou costume a fim de evitar escândalos; havia algo mais importante a ser observado, como se pode ler em 1 Coríntios 11.5: Mas toda a mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta, desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada.
Antes de entrar no mérito da questão, observemos a alvissareira notícia de que as mulheres eram livres para orar e profetizar nas assembleias. É muito agradável sa­ber que, nos primórdios da Igreja, era permitido a elas, nos cultos, exortar e edificar a congregação; ações estas reconhecidas como decorrentes do ato de profetizar. Evi­dência que atesta, também, o exercício da liderança e da autoridade das primeiras cristãs.
Diante do relatado, a questão do véu fica em segun­do plano. Todavia, entre os teólogos há debates intermi­náveis a respeito do seu real significado. Uns acreditam tratar-se de um gesto de submissão da mulher ao marido, o que configuraria discriminação, hierarquia. Outros, defendem a tese:
O uso do véu pelas mulheres não era um sinal de inferioridade ou de submissão; é no contexto cultural do tempo, um sinal de dignidade, uma marca de decência: pura questão de conveniência que poderia encontrar, em outros tempos, outras soluções.
Jerome Murphy O´Connor, por sua vez, sintetiza a questão de um modo bem interessante, declarando:
Paulo estava preocupado com a distinção entre os sexos e não com a discriminação. Ele não exigia que as mulheres usassem véu como sinal de subordinação aos homens, mas que tivessem o cabelo bem arrumado, em vez de solto e desarrumado, e que os homens usassem ca­belo curto.
Seguramente, os motivos que levaram o apóstolo a orientar sobre a maneira como as mulheres deveriam usar os cabelos não eram de natureza estética. A motiva­ção era a mesma que o levou a orientá-las, também, a se vestir adequadamente. Ou seja, para manter bem longe da igreja dos santos costumes ou comportamentos próprios dos povos pagãos. Convém salientar que nos cultos a Dio­nísio, Cibele, Pítia e Sibila o cabelo solto era necessário para a mulher produzir encantamentos mágicos eficazes.
Ainda, a respeito do uso do véu, na passagem de 1 Coríntios 11.10, lemos: Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos. Texto que tem dado muito trabalho aos exegetas, especialmente em sua segunda parte, ou seja, na referência aos anjos.
Não há uma resposta aceita consensualmente so­bre o seu verdadeiro significado. Uns pensam tratar-se de anjos bons, sempre presentes em momentos de culto a Deus. Seria um sinal de respeito a eles? Outros colo­cam em dúvida essa versão, sem apresentar outra solução aceitável, enquanto o texto permanece envolto em mis­tério. Não obstante, uma coisa é certa, na primeira parte da frase, ao falar do uso do véu como sinal de poderio da mulher, o apóstolo vem derrubar a teoria de que o seu uso signifique submissão ao homem. Certamente, diz respeito ao direito de a mulher marcar a presença femini­na nos cultos de adoração a Deus, nos quais ela poderia expressar-se à sua maneira, e não à maneira masculina. Assim denotaria a própria identidade livremente, na pre­sença do Altíssimo.
O cuidado em acentuar a diferença do viver cristão em relação ao viver profano - uma constante no minis­tério de Paulo - deve ter influenciado grandemente na questão do uso do véu. Basta observar que o costume era bastante difundido não somente entre as mulheres na sinagoga, mas, também, entre as gregas. Nesse sentido, observe-se o que acontecia nos rituais profanos, em cul­tos extáticos:
A possessão pela divindade era simbolizada pela remoção da cobertura da cabeça, provavelmente pelo sa­cudir ou lançar para trás o cabelo, e pela troca de roupas entre homens e mulheres.
Motivos mais do que suficientes para o apóstolo de­terminar que as mulheres cristãs permanecessem com o véu dentro da igreja e, também, para marcar claramente a diferença entre o modo de vestir de homens e mulheres.
Todavia, Stanley Grenz, acrescenta ao tema um ele­mento surpresa, ao afirmar: “Os debates entre eruditos indicam com clareza que não podemos mais simples­mente supor que Paulo tinha em mente um véu real.” Definitivamente, isso vem descartar a questão da submis­são da mulher representada pelo uso do véu. Vem provar, também que, no sentido material, o seu uso estava mais relacionado a demarcar com nitidez, como já foi dito, a diferença entre mulheres cristãs e não-cristãs e entre homens e mulheres cristãos, cada qual conservando no vestuário e no penteado as características próprias dos gêneros. Quanto a não se tratar de um véu real, vejamos o que dizem os exegetas.
Corroborando a tese de que o texto paulino não se referia a um véu real, o resultado de estudos linguísticos, de grande número de estudiosos, levam a crer que Paulo refere-se a uma autoridade possuída pela própria mulher. O termo grego exousia simplesmente não pode ser interpretado aqui como fazendo referência a uma cobertura real da cabeça, porque todo emprego paulino de exousia indica uma realidade abstrata ou que tenha essa qualidade abstrata. Em vista desta descoberta, o texto deveria ler: A mulher deve ter autoridade (isto é, liberdade, direito ou controle) sobre a sua cabeça.
Significando, de maneira específica, o reconheci­mento da autoridade e da liberdade da mulher de parti­cipar da adoração da igreja, tendo-se em vista, os tempos passados, quando à mulher não era permitido sequer falar na sinagoga. O que nos leva a acrescentar, prova in­dubitável da autonomia espiritual da mulher que lhe foi conferida por Cristo.
A atenção do apóstolo ao voltar-se, também, para a questão da roupa feminina tinha em vista dois objetivos: um deles, já mencionado, que fosse bem distinta da ma­neira de vestir dos homens; o outro, referia-se à decência e à modéstia com que a mulher verdadeiramente cristã deveria vestir-se – em contraste com as modas adotadas pelas mulheres mundanas.
O apóstolo colocou restrições ao uso de trajes vis­tosos e ao costume de trançar os cabelos enfeitando-os com pérolas ou adereços de ouro. A falta de bom-senso de algumas mulheres, que não levavam em conta os in­teresses da Igreja, certamente, foi o que induziu Paulo a fazer esta observação: Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas ou vestidos precio­sos. (1 Timóteo 2:9).
Estava coberto de razão, pois, a mulher causaria constrangimento aos cristãos ao desfilar, diante dos olha­res maliciosos de fariseus e pagãos com joias, vestidos ca­ríssimos e chamativos, tal como se estivesse num templo pagão ou numa festa grega. Era preciso fazer a diferença. Até aí, aplausos para Paulo, quando fala que “se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia.” Nada a ver, portanto, com recato pueril.
Suas palavras equivaleriam a dizer, cruamente, às mulheres nos dias de hoje: Não vão à igreja vestidas de forma vulgar – usando microssaia, bustiê e botinha; e com os cabelos pintados de azul, vermelho ou verde. Tampouco, entrem na casa de Deus vestidas com traje a rigor e cobertas de jóias. Ficava mal para a igreja no passado, como ficaria hoje, se as mulheres cristãs adotas­sem um modo escandaloso ou exótico de vestir-se. Da mesma maneira, seria bem estranho episcopisas (bispas) ou pastoras ostentarem, no púlpito, vestidos preciosos. Demasiado interesse por coisas materiais denota falta de perspectiva espiritual.
Aquelas cristãs recém-convertidas precisavam de tempo para livrar-se dos hábitos próprios do meio donde provinham. Algumas, de nacionalidade grega, perten­centes a famílias de posses, eram as que mantinham o costume de trançar os cabelos com pérolas e ouro e usa­vam os tais vestidos preciosos. Costume que, certamente, deixava as mais pobres constrangidas e distraía a atenção Mensageiras da Ressurreição 73
da assembléia nos momentos de culto. Poderia dar-se o caso de virem a ser imitadas pelas outras mulheres e seus modelos virarem moda; seria o mesmo que transformar a casa de Deus – local de oração e adoração - em passa­rela de moda. Paulo não se omitiu da tarefa de purificar o templo.
Ressalvado o cuidado de manter a decência no trajar e na aparência pessoal, visando a evitar compor­tamentos escandalosos, Paulo não discriminou as mu­lheres. Reafirmamos sempre ser injusta a sua fama de machista. Suas cartas não testificam contra ele, ao con­trário, negam essa fama. Ele estimava as cooperadoras, às quais dedicava grande consideração, tratando-as como verdadeiras irmãs e discípulas de Cristo. Suas orienta­ções não são dirigidas somente às mulheres, nos quesitos roupa e cabelo. Aos homens, também, exorta: A mesma natureza não vos ensina que é desonroso para o homem trazer cabelos compridos? (1 Coríntios 11.14a).
Ao insistir no modo de se apresentar diferencia­do entre homens e mulheres, Paulo reafirma as palavras registradas em Deuteronômio 22.5, sobre o assunto: Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem veste de mulher: porque qualquer que faz isto abominação é ao Senhor, teu Deus. Convém notar que a troca de roupas entre homens e mulheres ocorria nos templos pagãos, quando ambos se encontravam sob pos­sessão maligna.
Os dois objetivos, ordem no culto e bom senso no que se refere aos costumes e à aparência, por parte dos crentes de ambos os sexos, buscados insistentemente pelo apóstolo Paulo, com certeza, não saem de moda.

São tão válidos hoje, quanto foram no passado. Por outro lado, a consciência manda-nos observar que bom senso (Continua).

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

                              O SIGNIFICADO DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO
Na primeira carta aos Coríntios, capítulo 15, o apósto­lo Paulo fala sobre a ressurreição de Cristo, demonstrando como esse fato representa a coluna de sustentação da nos­sa fé. Dentre as veementes considerações sobre o assunto, observe-se a do versículo 17: E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados.
Incontestavelmente, a ressurreição aparece como o acontecimento basilar do cristianismo, sem o que, nos­sa redenção “em Cristo” não se realizaria, e o plano de salvação de Deus para a humanidade seria frustrado. E também os que dormiram em Cristo estão perdidos. Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais mise­ráveis de todos os homens (vv.18,19).
Não poderia deixar de abordar neste livro, ainda que de modo esquematizado, o grandioso tema da res­surreição; assunto sempre merecedor de estudo profun­do que possa abranger toda a sua dimensão e mistério. Porém, o desincumbir-se dessa tarefa cabe aos teólogos. Por conseguinte, abordaremos o tema resumidamente, recorrendo às palavras da Bíblia sob a luz da análise exe­gética de alguns abalizados teólogos.
Discorrer sobre a ressurreição de Cristo, interpretá-la e tentar explicá-la tem sido o grande desafio de teólogos e até mesmo de filósofos ao longo dos séculos. Protestantes e católicos têm procurado desvendar-lhe o significado na ânsia de melhor compreendê-lo e de torná-lo mais aces­sível à compreensão popular. Certamente, pelos séculos afora, continuarão a trabalhar nessa tarefa que se liga ao Eterno. Sempre há mais a ser dito, pois o tema caracteri­za-se por ser inesgotável, uma vez que trata da Fonte da Vida que é Jesus Cristo, o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim. Será que algum dia poderemos atestar o nosso total e completo conhecimento sobre o assunto?
O mistério que envolve a ressurreição de Cristo faz presumir a Sua morte e autentica seu sentido de reden­ção. Morte e ressurreição são acontecimentos insepará­veis – redentores - que se inserem no quadro mais amplo da Escatologia: na Parusia, volta gloriosa de Cristo para buscar a Sua igreja. Verdade que é, incontestavelmente, reconhecida e aceita pelas diversas correntes de interpre­tação teológica.
Nunca é demais lembrar, por causa de dúvidas e interpretações bizarras, que a ressurreição de Cristo foi literal e corpórea, não podendo ser vista apenas como espiritual ou simbólica. Haja vista, a Sua atitude, quando ressurreto, ao aparecer aos discípulos dizendo-lhes: Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo: tocai-me e vede; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. E, dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. (Lucas 24. 39, 40). Do mesmo modo será a ressurreição dos mortos da qual Cristo foi feito as primícias. (1Coríntios 15.20).
AMOR INEXPLICÁVEL - O que a morte e a ressurreição revelam a nós, em seu substrato, continua a ser inexplicá­vel para a inteligência humana, qual seja, o amor de Deus pela humanidade. Revelação que constitui, parece inco­erência, um enigma para o intelecto, porque extrapola o nosso entendimento e compreensão. Ao falar do amor de Deus, nossa inteligência mostra-se frágil em compa­ração com o discernimento espiritual, capaz de apreen­dê-lo melhor. O evangelho de João descreve-o da seguin­te maneira: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3.16). (Continua).

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Trecho extraído do livro Mensageiras da Ressurreição

                                 PROFETISAS DO ANTIGO TESTAMENTO
Ao analisar o papel da mulher, como profetiza, no Antigo Testamento, o professor Eduardo Getão afirma: O Antigo Testamento legitima a tarefa bem como a validade das ações proféticas no cumprimento das profecias. Neste período observa-se o reconhecimento da missão profética desenvolvida pela mulher.
Apesar da grande importância que a profecia representou para o povo de Israel, o registro desses acontecimentos - no que concerne ao seu exercício por parte das mulheres – é parco em detalhes; o que pode ser creditado ao predomínio da linguagem androcêntrica da narrativa bíblica. A Bíblia, escrita por homens, deixa de registrar a maioria dos feitos realizados pelas mulheres. Ainda assim, o essencial foi escrito, e menciona grandes nomes femininos ligados à atividade profética como os de Miriã, Débora e Hulda. Os eruditos concordam com a afirmação de que as profetisas do Antigo Testamento realizaram um autêntico e verdadeiro ministério profético entre os filhos de Israel. Convém notar, também, que Miriã e Débora exerceram atividades políticas de grande importância para a nação israelense.
                                              MIRIÃ
Então Miriã, a profetisa, irmã de Aarão (e de Moisés), tomou o tamboril na sua mão, e todas as mulheres saíram atrás dela com tambores e com danças. (Êxodo15:20). Esse relato nos dá uma perfeita mostra da influência exercida por Miriã sobre as mulheres israelenses. Episódio no qual elas foram unânimes em segui-la na dança jubilosa de agradecimento a Deus, por ter livrado o povo
das mãos de Faraó. Por Ele ter aberto o Mar Vermelho
para Israel passar, Miriã entoava: Cantai ao Senhor, porque
sumamente se exaltou, e lançou no mar o cavalo e o
cavaleiro. (v.21). Tais palavras referem-se ao fato de que
após o povo de Israel passar, em seco, pelo meio do mar
e, tendo o exército do Faraó tentado segui-lo, foi tragado
pelas águas. Pereceram cavalos e cavaleiros levando consigo
todas as armas de guerra.
Sobre o desempenho de Miriã, Thomas R. Schreiner
declara: É simplesmente errado concluir que Miriã
ministrava apenas às mulheres. As histórias sobre Miriã
mostram que ela foi realmente uma figura pública, um
membro do trio de líderes em Israel.
                                      DÉBORA
Débora, profetisa, como claramente é declarado no
livro de Juízes 4. 4-5, associava esse ministério ao cargo
de juíza. Seu lugar de trabalho e de moradia era debaixo
das palmeiras, chamadas palmeiras de Débora, entre
Ramá e Betel, região montanhosa de Efraim (Juízes 4.5),
onde as pessoas se reuniam para os julgamentos sob a
sua autoridade.
Um aspecto pouco observado e difundido de sua biografia
é o seu lado guerreiro, no sentido literal da palavra,
posto que partiu dela a iniciativa de declarar guerra ao chefe
do exército de Canaã, chamado Sísera. Isso aconteceu quando
Israel achou-se num momento crítico de sua História, sob
grande ameaça desse povo inimigo. Havia vinte anos que os
israelitas vinham sendo pressionados pelos cananeus.
O motivo que levou Débora tanto a declarar a guerra
como a participar dela foi a atitude indecisa de Baraque
em cumprir a ordem de Deus a esse respeito. O
Senhor havia ordenado a ele atrair o exército inimigo ao
monte Tabor, levando com ele dez mil homens dos filhos
de Naftali e dos filhos de Zebulom, porque lhe daria a
vitória sobre Sísera. Porém, Baraque hesitava em pôr em
prática a orientação dada pelo Senhor. Por esse motivo,
Débora mandou chamá-lo, cobrando explicações. Baraque
respondeu que, finalmente, enfrentaria o exército
inimigo, mas, impôs uma condição, (Juízes 4.8b) iria somente
se Débora fosse com ele, caso contrário não iria.
Diante disso, Débora prontificou-se a acompanhá-lo.
A explicação que se tem quanto à atitude de Baraque,
procurando apoiar-se em Débora, seria por ignorar
a data em que deveria dar início à batalha. Ela poderia
ajudá-lo, ao profetizar sobre a questão, caso o acompanhasse
nessa luta. Explicação, a que as palavras dela vêm
corroborar, pois, quando já se encontrava no monte Tabor,
local designado para a peleja, diz a Baraque: Levanta-
te, porque este é o dia em que o Senhor tem dado a
Sísera na tua mão: porventura o Senhor não saiu diante
de ti? Baraque, pois, desceu do monte Tabor, e dez mil
homens após ele (v.14). O que, à primeira vista, poderia
parecer uma atitude pusilânime de Baraque - depender
da companhia de uma mulher para acompanhá-lo
na batalha - não foi mais que um recurso hábil de sua
parte por uma questão de prudência; visto que, contar com
a ajuda de uma palavra profética, indicando-lhe o melhor
momento para atacar o exército inimigo, representaria, sem
dúvida, grande vantagem. Outrossim, o fato mostra quão
respeitado e veraz era o ministério profético dessa mulher.
O desfecho da batalha dá-se com a vitória de Israel;
e, graças à missão patrocinada pela profetisa, a nação gozou
de estabilidade por quarenta anos. O mérito da vitória
coube a ela. Antecipadamente, Débora avisara Baraque sobre
essa questão, ao assentir em acompanhá-lo ao campo
de batalha. Os louros da vitória, avisou-o, não seriam creditados
a ele, mas a ela e, de fato, assim aconteceu.
Nesse episódio, não pode ser esquecido mais um
nome de mulher, o de Jael; protagonista de um incidente
violento, foi ela quem deu o golpe de misericórdia em
Sísera. (Juízes 4.18-24).
Não podemos deixar de lado, também, outro dos predicados
de Débora, qual seja, o seu talento de musicista. O
capítulo 5, de Juízes, é inteiramente dedicado ao registro do
seu cântico de vitória por Israel, entoado por ela na presença
de toda a nação. (Juízes 5.1-32). Num dos seus versos ela
exclama: Eu Débora, me levantei por mãe em Israel. (v.7b).
                                          HULDA
Na história de Judá sobressai, também, o nome da
profetisa Hulda. O relato encontra-se no livro de 2 Reis
22.14-18. Conforme sublinham alguns pesquisadores, o
rei Josias, deixou de consultar grandes profetas de seu
tempo, como Sofonias (Sf. 1.1) e Jeremias (Jr.1.2) para
recorrer à profetisa Hulda. O ocorrido deu-se na ocasião
em que o rei havia mandado restaurar o templo. Entre os
escombros, o sumo sacerdote Hilquias acha o Livro da
Lei que se havia perdido, e o entrega ao rei. O monarca
envia seus emissários, entre os quais o próprio sacerdote
Hilquias, além de Aicão, Acbor e Safã para indagarem
da profetisa a respeito de quais seriam as revelações do
Senhor sobre o conteúdo do Livro. Hulda, então, faz a
revelação ao rei: Porque grande é o furor do Senhor, que
se acendeu contra nós; porquanto nossos pais não deram
ouvidos às palavras deste livro para fazerem conforme
tudo quanto de nós está escrito (2 Reis 22.13b).
Como se vê, pelos relatos, foi inestimável o valor
do ato profético e, naturalmente, dos profetas e profetisas
para aquela sociedade. Como exemplo, observemos
as decorrências práticas da profecia de Hulda: o rei Josias
e o sacerdote Hilquias dependiam vitalmente dessas revelações.
Se analisarmos o fato pelo prisma da hierarquia
social, no que se refere à autoridade, Hulda ocupava uma
posição mais alta do que o rei e o sacerdote. Ambos encontravam-
se na depêndencia de suas palavras. Na falta
delas, eles estariam de mãos atadas para agir e decidir
sobre o destino do povo, e acerca de seus próprios destinos.
Estariam à mercê da sorte ou, o mais provável, à
mercê do azar. Firmado nas revelações de Hulda, que as
emitiu depois de haver consultado a Deus, o rei Josias reúne
todo o povo de Judá e de Jerusalém, e renova o pacto
com o Senhor.
A profetisa revelara-lhe que o Senhor tinha ouvido
o seu clamor e visto as suas lágrimas, e que ele não veria
todo o mal que cairia sobre o povo, porque iria em paz
para a sepultura antes que tudo acontecesse; e as coisas
aconteceram exatamente como ela previra.
A missão do profeta e da profetisa consistia em
colocar-se na presença do Altíssimo, para servir de intermediário
entre Deus e o povo – na qualidade de arauto
do Senhor. (1 Reis 17.1; 18.15). Todavia, na era da Graça,
em que vivemos, as profecias, a nós direcionadas, estão
registradas na Palavra – viva e santa, sobre todo o plano
que Deus tem para a humanidade, até o final dos tempos.
Revelações que se encontram disponíveis a qualquer momento
para qualquer pessoa, da mais simples àquela que
ocupa o lugar mais alto na pirâmide social. Das incontáveis
revelações da Palavra, extraímos esta na qual Jesus
Cristo afirma: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida...à
qual Ele acrescenta, com letras de ouro: Ninguém vem ao
Pai, senão por mim. (Jo 14.6).
Quanto ao ministério profético das mulheres do
Antigo Testamento, os estudiosos são unânimes em reconhecer
a sua importância para o povo de Israel, bem
como a sua veracidade e autenticidade. É oportuno ter,
também, em mente que profetas e profetisas, ao lado dos
apóstolos, são o fundamento da Igreja.